“Portugal, Itália e a crise do futebol: descubra as diferenças”
“O Diário de Notícias tem vindo a revelar um conjunto de elementos no âmbito das escutas telefónicas do chamado caso ‘Apito Dourado’. Desses factos emerge clara intenção de diversos agentes ligados ao mundo do futebol condicionarem resultados desportivos.
No passado mês de Maio o semanário italiano L’Expresso publicou transcrições de escutas telefónicas realizadas no âmbito do Calciocaos, que estava a ser investigado pela Procuradoria de Nápoles. Face à gravidade dos factos, o Governo italiano nomeou um Comissário especial, operando no âmbito das estruturas federativas, para averiguar a situação e tomar as medidas apropriadas. Em resultado, dois meses depois a Juventus viu-se apeada dos últimos títulos de futebol que havia conquistado e despromovida à divisão inferior. Outros clubes de renome sofreram sanções disciplinares e desportivas, assim como vários árbitros e inúmeros dirigentes.
Em Portugal, o chamado 'Apito Dourado’ continua a marinar pelos tribunais e terminará, presumivelmente, em nada. Asfixiado pelo garantismo do sistema judiciário e perdido nas malhas labirínticas do processo penal, o qual, pela mão de advogados ilustres, favorece a impunidade dos poderosos.
Todavia, o contraste mais gritante com o chamado Calciocaos, que tem grandes semelhanças com os factos revelados no caso ‘Apito Dourado’, reside na atitude do poder político: em Itália, o Governo quis prontamente restabelecer a dignidade desportiva do futebol (não obstante o sistema jurisdicional transalpino ter feito frente, brilhantemente, ao terrorismo na década de 70 e à corrupção nos anos de 1990); em Portugal, o Governo parece não se importunar perante factos de inquestionável gravidade, confiando pacientemente na capacidade do sistema jurisdicional para a ‘resolução’ do problema.
António Goucha Soares, Professor Universitário.
Publicado no DN de hoje, quinta-feira, 14 de Setembro de 2006.
“O Diário de Notícias tem vindo a revelar um conjunto de elementos no âmbito das escutas telefónicas do chamado caso ‘Apito Dourado’. Desses factos emerge clara intenção de diversos agentes ligados ao mundo do futebol condicionarem resultados desportivos.
No passado mês de Maio o semanário italiano L’Expresso publicou transcrições de escutas telefónicas realizadas no âmbito do Calciocaos, que estava a ser investigado pela Procuradoria de Nápoles. Face à gravidade dos factos, o Governo italiano nomeou um Comissário especial, operando no âmbito das estruturas federativas, para averiguar a situação e tomar as medidas apropriadas. Em resultado, dois meses depois a Juventus viu-se apeada dos últimos títulos de futebol que havia conquistado e despromovida à divisão inferior. Outros clubes de renome sofreram sanções disciplinares e desportivas, assim como vários árbitros e inúmeros dirigentes.
Em Portugal, o chamado 'Apito Dourado’ continua a marinar pelos tribunais e terminará, presumivelmente, em nada. Asfixiado pelo garantismo do sistema judiciário e perdido nas malhas labirínticas do processo penal, o qual, pela mão de advogados ilustres, favorece a impunidade dos poderosos.
Todavia, o contraste mais gritante com o chamado Calciocaos, que tem grandes semelhanças com os factos revelados no caso ‘Apito Dourado’, reside na atitude do poder político: em Itália, o Governo quis prontamente restabelecer a dignidade desportiva do futebol (não obstante o sistema jurisdicional transalpino ter feito frente, brilhantemente, ao terrorismo na década de 70 e à corrupção nos anos de 1990); em Portugal, o Governo parece não se importunar perante factos de inquestionável gravidade, confiando pacientemente na capacidade do sistema jurisdicional para a ‘resolução’ do problema.
António Goucha Soares, Professor Universitário.
Publicado no DN de hoje, quinta-feira, 14 de Setembro de 2006.
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