terça-feira, maio 31, 2016

As visões do Ronaldo e as vendas do Benfica!

A boa imprensa é uma coisa, a imprensa amiga é outra, mas a imprensa de gatas é quadrúpede. E nem é preciso ler as notícias para as classificar basta ler os títulos. Por exemplo, a noticia das visões do Ronaldo que o levaram a pedir ao treinador para ser o último a marcar o penalty, a ser verdade, só me podem fazer sorrir. Aliás, na altura, e quando percebi que ia ser assim não pude deixar de comentar para os meus botões – lá está o Ronaldo a fugir às suas responsabilidades de capitão! E creio que não foi a primeira vez neste tipo de decisões. Portanto, repito, ri-me das ‘visões’. Não preciso de explicar que normalmente não se chega à quinta grande penalidade. E também não preciso de explicar que bater as primeiras é que custa mais. Toda a gente sabe isso.

Voltando à imprensa quadrúpede e às notícias diárias sobre as vendas do Benfica, não há muito a dizer. São sempre vendas extraordinárias, ganham sempre muito dinheiro e por consequência deve haver sempre quem perca. Aliás, neste capítulo de perdas e danos, até eu posso testemunhar uma vez que sou depositante do Novo Banco instituição onde o clube da Luz é um dos maiores devedores! E nestas circunstâncias, comprometendo a sua projectada venda! Também se não for vendido qual é o problema?! Pagam os contribuintes. Clube do estado precisa de banco do estado. Continuamos para bingo.




Saudações azuis

segunda-feira, maio 30, 2016

Ponto da situação

O segredo é a alma do negócio e é bom que assim seja. Isso não me impede de especular ou sugerir este ou aquele jogador, opinar sobre isto e sobre aquilo, passatempo de adepto que só sabe aquilo que vê no campo ou que é publicado nos media.

Hoje faço o ponto da situação. Antes porém quero referir uma evidência universal – excepção feita aos três emblemas que têm a banca do estado por trás, o Belenenses, tal como os restantes clubes portugueses só se diferenciam pelo projecto que possam apresentar aos jogadores que pretendem contratar. É neste ponto que a SAD pode, ou não, fazer valer os nossos pergaminhos. Portanto e no que se refere ao central destro, concretamente ao Yohan Tavares, estou convencido que não serão os números a fazer a diferença mas sim o projecto que lhe apresentarmos. Idem para o caso do Aguilar, um jogador em fim de carreira e cuja continuidade deveríamos assegurar.

Noutra perspectiva parece-me acertada a política para preencher o lugar de defesa direito, num claro não aos emprestados da segunda circular. João Diogo tem tudo para vingar – técnica e velocidade de extremo com rins de lateral! No outro lado, o assunto está mais difícil. Mica é um jovem e li que vem lesionado. Quanto á saída de Filipe Ferreira, dizem-me que vai para o Estoril, tenho pena. Como bastas vezes referi trata-se de um jogador polivalente, mais interior esquerdo que lateral, e que tem um bom remate. O que é importante.

Bakic, grande jogador! Compreendo as dificuldades em mantê-lo. E um substituto á altura para aquela posição não é fácil de encontrar. Há muita procura. Aguardemos.
No ataque Gerso é bem contratado. É um extremo rápido, com bom drible, pode ainda evoluir nos aspectos da finalização.
Uma última exigência: - no final do campeonato alguém do Belenenses tem que aparecer na lista dos melhores marcadores. Chame-se ou não ‘Mendy’.


Saudações azuis

quinta-feira, maio 26, 2016

Entre as brumas da memória!

Podia começar a crónica deste feriado pelo próprio feriado – dia do Corpo de Deus, data volante que a Igreja Católica celebra 60 dias depois da Páscoa. Uma afirmação de fé na Eucaristia. A seguir podia falar-vos na construção de mais uma mesquita em Lisboa, desta vez na Mouraria, iniciativa da Câmara Municipal. Não fica claro se o projecto é para requalificar a cidade, transformando-a num museu, ou se pretende requalificar a religião indígena! E finalmente devia falar-vos do Belenenses! Porque foi hoje reinaugurado o Campo das Salésias, primeiro relvado de Portugal, onde os homens da Cruz de Cristo escreveram as páginas mais brilhantes da sua história! Lembranças relacionadas: - Há setenta anos ganharam o seu primeiro e único campeonato nacional! Dez anos depois perderam-no também ali, de forma inglória. Nasci em 1945, não posso recordar-me do acontecimento mais feliz. Do outro, lembro-me vagamente. Era o último jogo, defrontávamos o Sporting e precisávamos de ganhar para ficar a salvo de qualquer surpresa. Marcámos primeiro, mas um golo do sportinguista Martins estragou a festa. O empate não servia. O Benfica com o mesmo número de pontos, mas vantagem no confronto entre ambos, sagrou-se campeão. E nas brumas da memória ficou a primeira página do jornal ‘A Bola’: – uma caricatura com uma águia a roubar qualquer coisa a um pretinho chamado Matateu! Desde aí…



Saudações azuis  

quarta-feira, maio 25, 2016

Os números da nossa vergonha!

Já todos os conhecem, vêm escarrapachados nos jornais, só não retira ilacções quem não quiser: - Dois mil milhões de euros é o valor que será distribuído pelos 20 clubes que disputaram a edição 2015/16 da Primeira Liga Inglesa! Estamos a falar de dinheiros resultantes das transmissões televisivas. Quem recebe mais, numa média ponderada entre o mérito desportivo e outras variáveis, é o Arsenal, 2º no campeonato e a quem cabe a quantia de 132,498, 270 euros! Quem recebe menos é o Aston Villa, 20º e último classificado que arrecadará 87.417, 080 euros! Aqui o que mais impressiona, para além da saúde da indústria, é a diferença, aceitável, entre quem recebe mais e quem recebe menos! Aliás única fórmula para o sucesso de uma actividade que, ou vive da competitividade, ou sobrevive através do subsídio e da dívida.

Neste ponto há sempre quem tente explicar o inexplicável com a dimensão dos mercados! As diferenças são de facto enormes mas essa é a conversa da galinha e do ovo. O problema está na competitividade. No nosso caso, na falta dela. As pessoas normais, seja no estádio seja defronte da televisão querem ver um jogo de resultado incerto e só assim estão disponíveis para pagar o espectáculo. Nos países onde não há competição, nem pode haver, tal é a diferença de meios postos à disposição de uns e de outros, o pessoal faz muito barulho mas não paga. E só frequenta os estádios onde jogam os três clubes que asfixiam o futebol português. O resto está vazio. E não é com três ou quatro clubes que se pode organizar um campeonato com um mínimo de interesse e que seja rentável. A não ser para alienados e caloteiros. Mas até estes são obrigados, de vez em quando, a olhar para a realidade. E a realidade é esta: - o último classificado da Liga Inglesa recebe mais do dobro em direitos televisivos que aquilo que o Benfica virá a receber da NOS! Se entretanto isto não entrar tudo em falência.


Saudações azuis

segunda-feira, maio 23, 2016

Os paraísos da corrupção!

Estão identificados no mapa, todos os vigaristas os conhecem, são uma espécie de países, onde a liberdade é uma palavra usada e gasta, são normalmente repúblicas, dominadas com toda a normalidade por poderosas maçonarias, produzem imensa legislação, a maior parte contraditória, e há sempre uma escapatória, uma nulidade, um meio de prova que não é permitido, uma escuta que tem que ser destruída, uma prescrição a calhar! Estes paraísos têm sobretudo pouquíssima vontade de alterar seja o que for, quer a moldura legal, quer os meios de prova, no sentido de tornar mais eficaz o combate à corrupção. Pelo contrário, a cada sinal de alarme, a lei substantiva torna-se mais feroz mas a prova torna-se mais difícil! Um paradoxo que os vigaristas agradecem.

Não faço tenção de viajar para nenhum destes paraísos e bem vistas as coisas talvez nem precise! Porque a ser verdade que as instituições que regem o futebol nacional, em lugar de estarem na linha frente a lutar pela verdade desportiva, parece que se limitam a reenviar para 'as autoridades competentes’ as denúncias que lhes chegam! Afinal o que é isto?!

Então perante indícios tão fortes de que a casa está toda a arder apenas interessa reportar que alguém viu um bocadinho de fumo a sair de um dos quartos?! Ou andamos todos distraídos?! Se isto é assim na segunda Liga e apenas nalguns jogos que por acaso foram apanhados numa escuta, quem nos garante que não está tudo contaminado?! Uma coisa é certa temos um ex-primeiro ministro arguido de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, temos todos os dias casos de corrupção nos noticiários, temos bancos a arruinarem-se num mar de lama, e no futebol temos apenas uns joguinhos combinados na segunda Liga?! Não brinquem connosco.


Saudações desportivas

quinta-feira, maio 19, 2016

Nova época

Velasquez fica e está a preparar o início da próxima época. É uma boa notícia, uma vez que já deu provas de saber aquilo que quer, vidé os reforços de Janeiro, fundamentais para subirmos na tabela. Para além, naturalmente, das qualidades do próprio treinador.

Quanto á SAD, Rui Pedro Soares joga na próxima época uma cartada decisiva: - ou nós, os adeptos, percebemos que o clube está a crescer de forma consistente, libertando-se ao mesmo tempo de dependências estranhas, e isso há-de ter tradução no desempenho da equipa; ou pelo contrário continuamos a desconfiar da solidez do projecto e está o caldo entornado. Não estão em causa nem a perspicácia nem o jogo de cintura do presidente da SAD, até á data notáveis, estão sim em causa, como tenho referido (abundantemente) a consistência do projecto e a confiança dos adeptos. Em termos concretos o desafio é o primeiro terço da tabela. Sendo que ajudava muito que Clube e SAD puxassem para o mesmo lado.

Dito isto vamos às aquisições que entendo necessárias partindo do princípio que não se consegue a renovação de Aguilar, um novo empréstimo de Bakic e o fim do empréstimo de Geraldes. O ideal seria mantê-los, nomeadamente os dois médios.
Fim do empréstimo do Geraldes quer dizer que o Belenenses não pode continuar com jogadores emprestados pelos rivais (Benfica, Sporting e Porto), nem tão pouco com outros que lhes estão hipotecados. Para bom entendedor… Mas vou esquecer-me destes por agora até porque não sei exactamente qual é a respectiva situação contratual.

Assim, ficam a faltar um defesa direito, um médio defensivo e um armador de jogo. Mas é evidente que na época que terminou já faltavam alguns jogadores. Dois, pelo menos. Um central direito, atendendo à prolongada lesão de Palmeira, e sempre faltou mais um defesa esquerdo. Pois não me parece que Fábio Nunes seja alternativa para o lugar. Por outro lado Filipe Ferreira, talvez possa adiantar-se no terreno (interior esquerdo) e disputar o lugar com André Sousa.
Resumindo: precisamos de garantir (pelo menos) cinco jogadores – os três que podem não continuar e os dois que sempre faltaram.

E o que dizem as notícias entretanto?! Ainda é cedo, mas são anunciados dois jogadores - um defesa direito que vem do Marítimo e o Gerso, extremo-esquerdo do Estoril. Tenho boa impressão de ambos e se vierem são os melhores do mundo.



Saudações azuis


Nota: Segundo rezam as crónicas o Estoril tem sete jogadores em fim de contrato e dois deles (Gerso e Babanco) já terão sido contactados pelos responsáveis azuis. Pois da lista de sete existem outros jogadores interessantes e que também dariam jeito ao Belenenses. Desde logo o central Yohan Tavares que corresponde ao perfil que andamos à procura - um central destro, tecnicista, e que saiba sair a jogar. Tavares encaixa nestas características e fez uma grande época com Marco Silva. Há porém outro jogador que gostaria de ver no Belenenses. É o avançado Mendy. Não é uma prioridade absoluta, já que temos Juanto, Caeiro e até Miguel Rosa para aquela posição, mas Mendy pode vir a compensar porque tem características invulgares: - envergadura, disponibilidade física, técnica quanto baste, e marca muitos golos! Incomoda qualquer defesa. Aliás referi-me a ele na antevisão da partida com o Estoril. 

terça-feira, maio 17, 2016

Contratos de associação no futebol!

Isto é uma ideia minha, uma ideia esquisita mas que apetece formular nesta altura. Vejamos: - o governo de esquerda que sofremos invoca a escassez orçamental para manter contratos de associação com escolas privadas quando haja escolas públicas nas redondezas. Pois muito bem, as autarquias deviam fazer o mesmo no que toca ao financiamento dos clubes de futebol. Onde houvesse um clube de futebol local a autarquia estaria proibida de desviar dinheiros ou quaisquer outros meios públicos para beneficiar clubes que não pertencem ao respectivo concelho. Estou a lembrar-me do Seixal, de Alcochete, Vila Nova de Gaia, etc.

Caso a autarquia venha a argumentar que assim, tal como está, todos ficam a lucrar, então estará descoberto o segredo para a recuperação económica (e desportiva) do país!
Para a recuperação económica basta convidar Benfica, Sporting ou Porto a instalarem-se em todas as autarquias portuguesas, e aguardar o milagre! Não esquecer as ilhas adjacentes! Aliás já existe algum caminho percorrido faltando apenas oficializar determinadas situações. Teríamos então um campeonato reduzido a três clubes e respectivas filiais. Que é mais ou menos o que existe agora.

Quanto à recuperação desportiva também devemos ter alguma fé. Se esperarmos sentados é bem possível que um dia uma das filiais seja autorizada a suplantar a sede e venha a conquistar o título!
Estou a imaginar a primeira página dos jornais desportivos: - O Benfica C, conquistou o título! Vieira discursa às massas na varanda do município! Vão dali directos para o Panteão!



Saudações azuis

domingo, maio 15, 2016

Meia hora de saudade…

É difícil escrever sobre o Belenenses depois de se ter lido - ‘O meu amigo Matateu’! Uma descrição extraordinária sobre uma época e sobre um enorme jogador!

Mas a primeira meia hora contra o Estoril, medindo as distâncias e as circunstâncias, até que nem envergonha ninguém. Os jogadores correram, desmarcaram-se, jogaram para a frente e marcaram dois golos! Nessa meia hora o Estoril, que precisava de ganhar para manter aspirações europeias, apenas incomodou num cruzamento atrasado que Matheus cabeceou para Ricardo Ribeiro fazer uma grande defesa! E a minha crónica devia acabar por aqui, dar os parabéns ao grupo e ao treinador, pois cumpriram o objectivo (final) que formulei: - ficar na primeira metade da tabela!

Porém, não seria justo para quem me lê se não falasse na fase da asneira! Foram dez minutos incompreensíveis! Desatámos a jogar para trás, Ricardo Ribeiro passou a ser cada vez mais solicitado a jogar com os pés, e claro, asneira da grossa – uma tentativa de passe mais difícil, bola nos pés de Bonatini que isolado marcou como quis! E depois sucedeu o que normalmente sucede – uns crescem enquanto os outros minguam. Com um golo caído do céu o Estoril acreditou. E as asneiras sucederam-se: – Filipe Ferreira entra mal a um cruzamento e toca na bola com a mão! O árbitro, também contaminado pela asneira, marca penalty e mostra-lhe o cartão encarnado!

Penalty ainda se admite, até porque o Filipe Ferreira descontrola-se muito na área de rigor, mas cartão encarnado parece-me um exagero, uma vez que não havia nenhum estorilista próximo da bola e na iminência de marcar! Do mal, o menos, Ricardo Ribeiro defendeu a grande penalidade! E fomos para intervalo a ganhar por duas bolas a uma, mas com dez jogadores.
Na segunda parte a equipa recompôs-se, e foi segurando o jogo e o adversário, como pôde. Adversário que carregava na busca do empate e que viu a vida facilitada com as saídas forçadas de Aguilar e Bakic, um por cansaço, outro por lesão. Estavam a ser peças importantes na posse de bola e na retirada de iniciativa às pretensões canarinhas. Em boa verdade, Aguilar, foi quanto a mim e no cômputo geral o melhor jogador azul!

E houve um novo momento da asneira. Ricardo Dias que havia entrado há pouco tempo, toca duas vezes na bola, faz duas faltas e leva dois cartões amarelos! O Belenenses fica reduzido a nove jogadores e ainda havia algum tempo para jogar.
É um facto, Ricardo Dias tem que rever a sua forma impetuosa de jogar, seja com os braços quando disputa a bola de cabeça, seja nas outras formas de jogo perigoso. Mas o árbitro (eu diria os árbitros) também tem que rever o seu critério na apreciação destes lances. Até parece que Ricardo Dias é um jogador violento, e não é. Aliás nenhum dos dois lances me pareceu violento e a prova é que, ao contrário do que sucedeu na entrada por trás sobre Bakic, ninguém se magoou.

Com nove jogadores cerrámos os dentes, foi a vez de sofrer. Inclusivé sete minutos de compensação! Este último esforço valeu uma vitória importante mas que poderia ter sido alcançada de outra maneira.



Saudações azuis

sábado, maio 14, 2016

"O meu amigo Matateu"

Por Carlos Adrião Rodrigues


Também fiz desporto. Aliás, em Lourenço Marques, o mais difícil era os jovens não fazerem desporto. Eu queria jogar futebol e, se possível no Desportivo, como guarda-redes. Mas, nesse tempo, o Desportivo tinha o Luís Nunes e o Pedro Santos, o Ferroviário tinha o Hélder e o Costa Pereira ( sim, o do Benfica ), o Sporting, que para mim estava fora de causa por ser benfiquista e do rival local, o Desportivo, tinha o Evaristo e o Pegado e para as crises, o Juca (sim, o do Sporting de Portugal ), que, além de um fabuloso médio, era também um óptimo guarda-redes. Todos excelentes, dos quais se destacou mais o Costa Pereira. Nos clubes pequenos havia também guarda-redes fora de série, como o Fernando Vaz (hoje grande médico em Maputo), outro muito bom, no 1º de Maio, cujo nome me esquece. De modo que se eu queria jogar nas honras tinha que ir jogar no Malhangalene, na altura com falta de guarda-redes, que era um clube simpático, de bairro, que disputava alegremente os últimos lugares da tabela, com os clubes mais fracos. Mas como não havia 2ª divisão e portanto, não havia risco de descida, ninguém se preocupava muito com isso.

O Malhangalene tinha um grave senão, que só descobri muito depois de lá ter começado a jogar: os estatutos estabeleciam que era um clube só para brancos. Quando descobri fui ter com o presidente do clube, disse-lhe que aquilo não podia ser e que eu não continuaria a jogar num clube declaradamente racista. O homem disse-me que aquilo tinha sido uma estupidez mas que ele ia promover a alteração dos estatutos; e assim fez
Assim aconteceu que eu lá estava, nas balizas do Malhangalene, sofrendo golos do Veiga, do Laje, do Rebelo, do Coluna (sim, esse), do Eusébio (também), do Vicente e daquele génio da bola, então a amanhecer, chamado Matateu.
Ele jogava no 1º de Maio (camisolas vermelhas), clube do meio da tabela mas que às vezes disputava os últimos lugares com os mais fracos, outras os primeiros lugares com os melhores. De modo que os jogos com o 1º de Maio eram importantes para todos os clubes.

O Matateu era um jogador inteligentíssimo, de uma finta fulgurante, uma colocação espantosa e um remate poderoso. Dele sofri muitos golos, com orgulho o digo, mas também foi a remates dele que fiz algumas das melhores defesas da minha vida de que já ninguém se lembra, mas que eu nunca esqueci.
Eu, melhor, o Malhangalene, tinha um grande defesa central. Era o Zé Gomes. Atleta de primeira água, era alto e tinha um físico portentoso, com duas pernas enormes, musculadas e fortes. Tinha, ainda uma profissão que o obrigava a estar sempre em forma: era guarda-fios dos serviços de electricidade, encarregado de reparar as avarias da rede eléctrica, o que, com a tecnologia da época, implicava subir os pau-de-fios como os apanha-cocos sobem aos coqueiros.

O Zé Gomes tinha uma estratégia anti-Matateu, que umas vezes funcionava, outras não. Quando o Matateu corria para a baliza, podia fazer as fintas que quisesse, que o Zé Gomes plantava-se na frente dele, enorme, imóvel, braços abertos e uma perna levantada em paralelo ao chão. Isto obrigava o Matateu a dar uma grande volta e a perder ângulo de remate, mas, inteligente como era, depressa encontrou o antídoto: passava a bola por debaixo da perna levantada do Zé e ele passava pelo outro lado, aparecendo sozinho e de bola dominada, frente ao guarda-redes. O Zé Gomes tentou logo contrariar a técnica do Matateu e começou a treinar-se em baixar rapidamente a perna levantada e levantar a outra. Isto dava origem a inúmeros choques: se o Zé levantava a perna quando o Matateu ia a passar era livre ou grande penalidade; se a perna já estava levantada e era o Matateu quem, no seu afã, chocava com ela, não era falta mas ele aparecia-me a rojar pelo chão, por um lado, enquanto a bola seguia por outro. O chão pelo qual rojava era, normalmente o do campo do Sporting de Lourenço Marques, sem relva e com um piso que mais parecia lixa, de modo que vinha sempre queixoso e dizia-me; - Ai, este Sr. Zé Gomes, este Sr. Zé Gomes!, e eu respondia-lhe: -Deixa lá que ele não fez isso por mal e já passa! E foi com este tipo de conversa que ficámos amigos.

Por esse tempo, o Benfica fez uma digressão a África, incluindo Moçambique. Os dirigentes do Benfica eram todos do tempo do meu pai, em Benfica, de modo que naturalmente passaram a frequentar o restaurante de meu pai, comendo os melhores camarões do mundo (os de Moçambique) e lembrando a juventude comum e o Benfica do Lázaro e do Vítor Silva, do Gaspar Pinto e do Chico Ferreira. Numa das vezes eu estava lá e meu pai apresentou-me os senhores. Como a conversa caísse no futebol e apercebendo-se eles que eu jogava, logo me perguntaram se eu achava que algum dos jogadores a actuarem em Lourenço Marques podia interessar ao Benfica. Eu indiquei -lhes logo ali, dois: o Laje e o Matateu. Mas fui-lhes dizendo que embora fossem dois jogadores excepcionais, de igual valia embora de características diferentes, era melhor não pensarem muito no Laje porque ele namorava uma bela laurentina, por quem tinha uma paixão tórrida, a qual não podia nem ouvir falar em sair da terra dela. Eles foram, pelo menos, ver o Matateu, mas parece que não gostaram; o que, diga-se de passagem, foi estranho, porque mesmo quando o Matateu estava em dia não, o que acontece a todos, qualquer leigo em futebol via que estava ali um grande jogador. Os dirigentes do Benfica é que deviam pertencer àquela estirpe de dirigentes nacionais, cheios de ignorância e empáfia, que despedem mourinhos entre dois whiskies. 

Foi assim que o Matateu não veio para o Benfica, quando ainda não havia concorrência; mas uma pérola futebolística daquelas não fica escondida muito tempo e depressa o Sporting e o Belenenses o descobriram e disputaram. Foi o Belenenses que, felizmente para os benfiquistas ganhou a corrida, e o Matateu estreou-se num jogo particular contra o Porto, no estádio nacional. Nessa altura já eu estava em Lisboa, tirando o meu curso, e, embora o meu Benfica não jogasse, tinha de ver a estreia do meu amigo Matateu. Lá fui cedo para o estádio, paguei o meu bilhete e ainda consegui, graças a um simpático dirigente do clube de Belém, dar um abraço e um estímulo ao meu amigo. Depois fui para o meu lugar nas bancadas e, por acaso, caí no meio de um grupo de adeptos do belenenses que discutiam a possível estreia do “ preto” que uns opinavam ser muito bom, outros diziam não prestar para nada e a maioria mostrava não o conhecer de todo.

Contive-me durante algum tempo, mas a certa altura decidi intervir e lá expliquei àqueles azuis embasbacados que o seu clube tinha feito a aquisição do século. Quiseram saber quem eu era e, quando lhes disse, que conhecia bem o Matateu mas tinha jogado contra ele e, como guarda-redes, tinha “engolido” muitos golos marcados por ele, que estava alí não porque fosse do Belenenses ou do Porto, mas porque queria ver jogar o Matateu; que eu era benfiquista de alma e coração e que a minha pena era ele não ter vindo para o Benfica este discurso, deixou-os curiosos. O jogo começou pouco depois. Nessa altura a grande figura da equipa do Porto era o Virgílio, jogador correcto e de alta qualidade que mercê de uma grande exibição contra a Itália, era conhecido pela alcunha do “leão de Génova”. Foi ele encarregado de marcar o “preto” e o “preto” passava por ele como se ele não estivesse ali. Eram dribles, eram bolas por debaixo das pernas, eram mudanças de direcção e de velocidade que deixavam o Virgílio pregado ao solo, a tal ponto que a certa altura e fora dos seus hábitos, perdeu a cabeça e enfiou uma estalada ao Matateu. Este, com o complexo do colonizado, não reagiu e encolheu-se, para evitar apanhar mais; o árbitro, como era um amistoso, de início de época, fez vista grossa e teve que vir o Feliciano (uma das torres de Belém) a correr, lá do seu lugar dar um abanão ao Virgilio, para salvar a honra do convento.

Nesse jogo o Matateu não meteu nenhum golo, mas deu de bandeja a outro avançado a bola com que marcou o golo da vitória do Belenenses e fez um grande jogo. Os Belenenses à minha volta estavam felizes e olhavam-me com consideração por eu lhes ter antecipado a excelência do jogador. Gostaria de ter visto a cara deles, quando uma semana depois, já para o campeonato, o Belenenses ganhou por 4 ou 5 ao Sporting, todos ou quase todos os golos do Matateu.

Das duas vezes fui ver o Matateu, não os clubes que não eram o meu, mas de ambas as vezes saí com o peito cheio de orgulho moçambicano, orgulho que, por razões futebolistas, só voltei a sentir cerca de uma década mais tarde, quando já exercia a profissão de advogado em L.M. e desloquei-me à Europa. Tive de ir a um banco, em Paris, descontar um cheque para o que exibi o passaporte, que na capa dizia Moçambique. Então o funcionário bancário olhou o passaporte, sorriu e exclamou :
-Tiens! – le Mozambique, le pays d’ Eusébio!

Assim, graças à magia do futebol, a mais de 14000 Km. de distancia, um francês, por tradição alheio á geografia, conhecia Moçambique.


(Retirado com a devida vénia do blog 'gaudium et spes')

sexta-feira, maio 13, 2016

Antevisão

Antevisão é ganhar e ponto final. Se o Estoril precisa de pontos para chegar á Europa nós precisamos dos três pontos para ganharmos no Restelo! Magro pecúlio temos em nossa casa – dezasseis jogos, cinco vitórias apenas! Também precisamos de não sofrer mais golos, sessenta e cinco no total dá uma média de dois golos sofridos por jogo, o que explica quase tudo sobre a época desportiva que agora termina. 

De Velasquez espera-se que não invente muito. Quatro defesas clássicos (Filipe Ferreira incluído), quatro médios que corram e saibam defender, e na frente, Juanto e Tiago Caeiro. Se quiser ser mais atrevido, meta o Fábio Nunes numa das alas. Na ala esquerda em lugar do Miguel Rosa que flecte sempre para o meio. Mas isso já são pormenores. Do Bakic espero uma grande exibição à despedida!



Saudações azuis


Aviso à navegação: Dos jogadores estorilistas, o mais complicado de marcar não é o Bonatini, mas sim o Mendy. Também é preciso ter cuidado com o Matheus, o filho do Bebeto, esquerdino e perigoso na meia distância e nas bolas paradas. 

quarta-feira, maio 11, 2016

Um país microscópico!

Isto está a ficar irrespirável, apertado, já não bastava a globalização informativa que reflecte a mesma notícia, um bilião de vezes por dia, por esse mundo fora! Já não bastava o IRS que sabe mais sobre mim do que eu próprio, já não bastava não haver desertos, nem oásis, já não bastava tudo isso e ainda tenho que sofrer, em cada minuto que passa, a notícia da transferência extra celeste de um jogador do Benfica! E não há volta a dar, para onde quer que me volte parece que o país foi bafejado com a sorte grande! Já tínhamos os milhões do Cristiano Ronaldo, temos agora os milhões do Renato Sanches! Estamos cada vez mais ricos!

Seria uma boa notícia para os lesados do BES, mas esses não devem ter sorte nenhuma. Seria uma boa notícia para o Novo Banco mas duvido que as enormes dívidas dos grandes clubes sejam alguma vez liquidadas. Nesta matéria vale uma anedota antiga, anedota que terá inspirado o nosso Sócrates na sua teoria sobre dívidas: - as dívidas velhas não se pagam; as novas fazem-se velhas e também não se pagam.

Mas enfim, sempre é uma boa notícia para o próprio jogador que é o menos culpado pela pequenez circundante.



Saudações azuis


Nota: A partir de agora o queixo do Sturgeon (que atingiu o cotovelo do Renato) já vale dinheiro.

segunda-feira, maio 09, 2016

Os mínimos…

O último objectivo é agora ficar na primeira metade da tabela, ou seja, no nono lugar! É pouco mas é melhor que ficar mais abaixo. Mas eu nem sei se temos esse objectivo! O que sei é que na longa lista de campeonatos que já levamos, estas últimas três décadas (e mais uns pozinhos) têm pouco a ver com as trinta anteriores. Nesse tempo era invulgar um sexto ou um nono lugar! Creio que nunca ficámos nessa posição, mas nem vou confirmar.

Ontem na Choupana cumpriu-se o fadário. Não vi o jogo mas pelos indícios, pelos comentários dos jornais, pelo resumo dos lances, pode até dizer-se que tivemos alguma sorte. Desde logo porque a incapacidade revelada para segurar uma vantagem nos últimos minutos é um fardo que carregamos desde o início da época! Nem vale a pena tentarmos doirar a pílula, pois basta atentarmos naquele livre, já nos descontos, que estava mesmo a ver-se para onde ía (para que cabeça ía) e ficamos conversados. E se o jogo demorasse mais um minuto, ou se o fiscal de linha não interviesse a tempo, lá voltávamos nós da Madeira com mais uma derrota no bornal.

Cansaço?! Excesso de jogos?! Mas que culpa tem o cansaço quando aos treze minutos já não temos pedalada para segurar o avançado do Nacional que em cada metro ganhava dois ao nosso médio defensivo?! Não é cansaço é falta de pernas. Mas não vamos insistir, a SAD e o treinador já devem ter retirado as devidas conclusões, basta olharem para o goal – average.

Saliências?! Poucas, mas ficou na retina o grande golo de Tiago Caeiro! E uma grande assistência! Bem, e não quero os louros da minha insistência no Filipe Ferreira, mas frango ou não, o que conta são as bolas que entram. E já não é a primeira vez que marca. Fico-me por aqui. Para quem não viu o jogo até já escrevi demais.

Saudações azuis

  

sexta-feira, maio 06, 2016

Leicester

Uma das coisas que mais me espantaram nestes últimos tempos foi a grande afición que se estabeleceu em Portugal a favor do Leicester! Toda a gente queria que o Leicester fosse campeão em Inglaterra! Para o comum dos portugueses isso seria mais do que uma vitória, era David a vencer de novo Golias!

Freud se ainda estivesse entre nós retiraria daqui importantes conclusões para os seus estudos psiquiátricos. O quadro clínico parece claro: - os portugueses, que na sua esmagadora maioria são adeptos dos grandes (Benfica, Sporting e Porto), não sobrando adeptos para os outros clubes, aproveitaram a brilhante carreira do Leicester para exorcizar os seus fantasmas! Transferem assim para Inglaterra aquilo que gostariam que acontecesse cá! Mas a doença é mais grave: - queriam que acontecesse cá apesar deles próprios tudo fazerem para que nunca aconteça!
Desde logo porque preferem o conforto espiritual de uma vitória mais que certa ao fim-de-semana. E depois porque não acreditam que um clube pequeno possa ser campeão em Portugal. Porque é que não acreditam?! Aí voltamos ao Freud. É um círculo vicioso.  

Mas não nos iludamos. Em Inglaterra o que aconteceu com o Leicester não foi nenhum milagre. Um clube, seja de que tamanho for, desde que consiga reunir um conjunto de competências desportivas superiores à concorrência, pode ser campeão. Basta verificar o histórico dos campeões ingleses. Estão lá emblemas que hoje militam em divisões inferiores mas que em qualquer altura podem reaparecer. É claro que é mais fácil que um Manchester ou um Chelsea reúnam mais vezes as tais competências. Há uma certeza e daí os estádios estarem sempre cheios: - as coisas decidem-se no campo, sem interferências estranhas.

Tem tudo a ver com a educação, com o facto de os ingleses não gostarem de ganhar de qualquer maneira, não gostarem de batota, tem a ver com a independência dos dirigentes federativos em relação ao poder político, em relação aos clubes, dos árbitros em relação a tudo o que os rodeia, dos jornalistas em relação ao poder económico, e tem a ver com uma distribuição equitativa dos dinheiros do futebol.

Em suma, tem a ver com tudo aquilo que nós não temos, nem queremos ter.


Saudações azuis

quarta-feira, maio 04, 2016

‘Belenenses sem criativos’!

Vou sabendo das novidades através da ‘Comunidade Azul’ (um oásis informativo!) e este título chamou-me a atenção – ‘Belenenses sem criativos na viagem à Madeira’! Fui indagar quem eram os criativos a ver se coincidiam com a minha ideia de ‘criativos’. Não totalmente.

Outra notícia dava conta que Bakic regressa a Florença no final da época não se sabendo ainda se o Belenenses consegue novo empréstimo. Parece que há mais clubes interessados, emblemas com outro poderio financeiro. Lá fora e cá dentro. Cá dentro lembrei-me logo do Novo Banco, um dos emblemas que mais investe, e que tem vários satélites conhecidos!

Voltando aos criativos vou enumerar uns quantos jogadores que de facto desequilibram e levam as equipas a que pertencem às costas. E não estou a falar dos três tubarões, tão pouco do Belenenses para não ferir susceptibilidades. Por exemplo, o Diogo Jota no Paços de Ferreira e o Rúben Ribeiro no Boavista, traçaram o destino das respectivas equipas. Uma, vai à Europa quase de certeza, a outra não desce de divisão, também quase de certeza. Noutro plano, o Octávio no Guimarães, e o filho do Bebeto no Estoril, também foram influentes.

Resumindo, é preciso estar muito atento aos tais criativos, descobri-los, agarrá-los com contratos antes que o Novo Banco os arrebanhe a todos. São eles que podem fazer a diferença. E claro, os goleadores. Mas esses são caros e raros.

E já agora falemos da importância dos treinadores, elementos decisivos na história dos clubes. O Belenenses tem sabido contratá-los. Segurá-los, oferendo-lhes um projecto ganhador, isso é outra questão. Veja-se a propósito o percurso de Simeone no Atlético de Madrid! E por uma questão de justiça o Arouca do Lito!


Saudações azuis


Nota: Num próximo postal falarei sobre o Leicester e o paradoxo português.

terça-feira, maio 03, 2016

O nacional benfiquismo existe mesmo!

Infelizmente não temos, nunca teremos um governo capaz de intervir no sentido de moralizar um pouco a batota institucionalizada que é o nosso futebol. E não temos porque a república está também ela mergulhada na mais vil corrupção. Aliás, e porque os exemplos vêm de cima, seria muito estranho que a corrupção e a batota não contaminassem tudo à sua volta! Nomeadamente o futebol que em Portugal não é indústria coisíssima nenhuma mas uma actividade subsidiada pelo poder político, pelos bancos falidos, em última análise pelos contribuintes. 

Portanto, quando se diz que no tempo do Salazar o futebol era o ópio do povo, agora o que podemos dizer é muito pior! Ópio é concerteza, mas em doses cavalares, e com uma diferença importante, a saber: - Salazar nunca deixaria que as finanças da nação se envolvessem nos negócios da bola. Ou que as autarquias trocassem investimentos úteis para as populações por obras em estádios sempre vazios. O mesmo se diga das empresas públicas (e semi-públicas tipo PT) ou dos bancos pseudo privados. Resumindo, esta insanidade que na Europa apenas existe em Portugal, e talvez na Grécia, ocupa práticamente todo o espaço mediático, com os políticos a falarem da bola e os presidentes da bola a falarem de política. Como disse, esta situação não augura nada de bom para ninguém. 
 
Hoje o problema central do país não é a conta da água que não pára de crescer ou os juros da dívida pública que hão de escravizar as gerações futuras,  não, hoje o problema  crucial tem a ver com a poupança de jogadores das equipas que vão defrontar Benfica ou Sporting! Ou em alternativa com as arbitragens habilidosas que põem fora de combate os jogadores que possam incomodar os mesmos Benfica e Sporting! 
No país nada mais interessa. E confirma-se o que sempre disse  - o nacional-benfiquismo existe mesmo e inclui o casalinho verde rubro.
 
Saudações azuis

Nota: Não falei do Belenenses porque em Portugal só existem três clubes. Os clubes do estado. Basta ligar a televisão para o comprovar.