segunda-feira, junho 26, 2006

Selecção abençoada

Aí vão eles outra vez, as frágeis caravelas desfeiteando flibusteiros holandeses!
Os ventos sopravam de feição, Maniche desembaraça-se de um adversário simula e engana, remata e golo. O Bojador ficou para trás. Mar largo e mar alto, os perigosos holandeses não se afoitam, receiam o contra ataque luso, optam por atemorizar o jovem Cristiano e conseguem pô-lo fora de combate. Entrou Simão e prosseguimos, mas Costinha, inadvertidamente, é expulso.
As nuvens adensam-se sobre as cabeças dos nossos defesas, a segunda parte iria ser terrível.
Tudo recomeça, os cruzamentos chovem sobre Ricardo, os homens da defensiva rechaçam tudo o que é humanamente possível, mas houve um momento, um pequeno milagre...a bola ressalta na área portuguesa e fica à mercê de um possante holandês, o disparo fortíssimo esbarra no ferro e não entra. Começámos a rezar.
A partir daí, pensei, chegaremos a terra firme, e assim foi, não obstante a mão nervosa de um Ivanov, que sem ter nada a ver com a contenda, ía dizimando portugueses e holandeses, ao ritmo das czardas.
Em Nuremberga acabaram nove contra nove!
No fim, a festa, a emoção, a merecida passagem aos quartos de final do campeonato do mundo.
Não há que destacar ninguém, foram todos inexcedíveis!
Dobrámos as tormentas, a Índia fica ali à frente!
Estou a falar de futebol, amanhã a vida continua.

quinta-feira, junho 22, 2006

Sombreros e barretes

Comecemos pelos barretes: aquela segunda parte contra o México, reduzido a dez unidades, caramba! Muito fraquinha.
Se os deuses ancestrais estivessem com os Aztecas, não sei se conseguiríamos segurar o primeiro lugar do grupo! Mas o que conta são os factos, quero dizer, resultados, e assim sendo, lá vamos nós para os oitavos de final com nove pontos, o equivalente a três vitórias! Scolari continua a não ser desmentido.
Apetece no entanto enviar daqui dois ou três recados para a rapaziada, a ver se atina de vez com o sentido da baliza adversária! Esta, fica normalmente na direcção oposta à nossa baliza; na segunda parte, muda; é esse o segredo que alguns dos nossos jogadores ainda não descobriram!
Por exemplo, temos médios e defesas muito recuados, que adoram jogar com o Ricardo!
Lá na frente, também há gente de sombrero, meio adormecida, mas não são mexicanos! Metem a trote e não saem daquele andamento!
De cadeirão, que não há verba para ir viajar, ainda me irritei, nomeadamente a seguir à expulsão do mexicano, francamente, não percebi tanta contenção!
Mas ganharam, repito, por isso, parabéns.

Outro barrete de aba larga, a lembrar o sombrero, é esse insigne jurista da bola, conhecido por Meirim! O apelido tem ressonâncias de antigo magistrado judicial, mas não deve ser o mesmo.
Ora bem, foi este Meirim notícia, por ter desenvolvido uma tese que garantia razão jurídica ao Gil Vicente no “caso Mateus”, e por isso, anda muito desconsolado com o evoluir da situação, sem compreender o que terá levado Fiúzas e companhia, a enveredarem por processos pouco ortodoxos, no sentido de garantirem uma votação vitoriosa na comissão disciplinar da Liga! Eles que tinham a lei e a justiça do seu lado!
O infeliz nem por um segundo se questiona, a si e à sua tese, mantém-se incrédulo, prisioneiro da constituição, mais um!
Enquanto não acorda para a realidade, convém esclarecê-lo: a legislação desportiva tem a sua própria especificidade, tendo em vista pôr todos os competidores em igualdade de circunstâncias; e neste caso, é tão evidente que o Gil Vicente furou o esquema para obter uma vantagem desportiva, estritamente desportiva, que não vale a pena lembrar que outros tentaram o mesmo, antes do Gil Vicente, mas foram dissuadidos de o fazer, pela lei e pela respectiva penalização. Assim o Gil Vicente utilizou Mateus, que o Paços de Ferreira também queria utilizar, se pudesse. E outros utilizariam, se pudessem.
Porque o Mateus jogou bem enquanto jogou, até marcou golos. Isto é estritamente desportivo, tem reflexo directo na competição.
E por ser tão claro, a Direcção do Gil Vicente percebeu logo que a argumentação do Meirim seria chumbada pelos juízes, e então, vá de recorrer aos expedientes de faca na liga, qualquer que seja a liga e os expedientes.
Resta concluir, aconselhando os organismos do futebol mundial a prevenirem-se, blindando o ordenamento desportivo à tentação de juristas que por tudo e por nada invocam a constituição.
Muito bem, o tempo está bom, vou enfiar um sombrero e dormir uma bela siesta.
Estou farto de barretes!
Saudações azuis.

sábado, junho 17, 2006

Vozes, silêncios e avisos

Vozes de comando de Scolari, que defende os seus como ninguém, que sabe construir equipas que ganham, que passou à segunda fase do Mundial depois de quarenta anos de jejum e mau comportamento. Lembram-se de Saltillo!
Mas isto não chega para se ser amado neste jardim da Europa, inesperadamente de costas voltadas para o mar!
Pois é, o homem não pactua com a cega-rega dos velhos hábitos de indisciplina; não embarca nas jogadas dos clubes que querem vender jogadores através da selecção; não admite promiscuidades, nem interferências de ninguém no seu trabalho. Está habituado a assumir as suas responsabilidades nos êxitos e nos fracassos, atitude fora de comum em Portugal!
A comunicação social enfeudada aos clubes do estado não gosta dele, diz que é malcriado, e está sempre pronta a inventar qualquer coisa contra o brasuca. Sem sucesso, diga-se.
O homem é santo? É infalível?
Claro que não, é apenas um seleccionador nacional independente dos poderes fácticos que dominam o nosso futebol. Uma raridade!
Silêncios sobre os escândalos que se sucedem cá em casa! Bem sei que está tudo a ver o mundial, bem sei que não estão em causa os sagrados direitos dos três clubes do estado, mas ainda assim, que diabo, um comentário do Valentim ou do Madaíl não ficava mal! Afinal são eles ‘os donos da bola’! Ou será por causa disso!?
Os cronistas da situação, uns mais que outros, lá vão dizendo que a lei não foi cumprida, que existe uma penalização prevista, que realmente foi um escândalo tudo o que se tem vindo a passar na Comissão Disciplinar da Liga, que morreu entretanto, fruto da demissão de dois juízes, que explicaram bem alto os motivos, para quem os quisesse ouvir.
Mas o problema continua a ser o silêncio, ou uma surdez mais ou menos convicta.
Avisos, já venho avisando os incautos para um possível golpe, para uma possível surpresa vinda da Federação.
O hábito, o vício de não julgar a questão de fundo, sempre enredada nas incidências processuais, pode conhecer mais um episódio dignificante para a chamada ‘justiça’ portuguesa. Refiro-me à tentação, por parte do Conselho de Justiça de não julgar o recurso do Belenenses, (deveria ser o recurso do futebol português para que se cumpra a lei), alegando ausência de decisão válida da Comissão Disciplinar da Liga! È uma esperteza para não decidir contra ninguém, e uma vingançazinha da Federação, exibindo a incompetência da sua rival, corrijo, associada, conhecida por Liga Portuguesa do Futebol Profissional! E como a tal Comissão Disciplinar da Liga não tem quórum, há que realizar eleições para a mesma, com o tempo a escoar-se, com a confusão a instalar-se, etc. etc.
Estou a ser pessimista? Deus queira que sim, que tudo se resolva, que se faça rápidamente justiça.
Saudações azuis.

quinta-feira, junho 15, 2006

Mateus...Rosé

Anda muita gente a abusar do Mateus!
Estou a avisar: há muita gente a ficar ‘xarope’ por causa do xarope! É que apesar do aspecto levezinho, direi mesmo adamado, parece que aquilo sobe mesmo à cabeça e uma pessoa sem dar por isso começa a dizer disparates! Já sei o que é que estão a pensar, estão a pensar em mim, querem-me mandar ao balão!? Tudo bem, mas então vamos todos.
A começar pela direcção do Gil Vicente, completamente xarope, a rematar para onde está virada...porque afinal começa a vir ao de cima a verdade e a tramóia, o acórdão que sempre existia, tinto no branco, com o Gil Vicente a ser justamente penalizado com a descida de divisão, que já deveria ter ocorrido há muito tempo, desde o tempo em que foi taxativamente avisado pela Liga sobre as consequências do recurso aos tribunais comuns. Tal como já tinha sido avisado o Paços de Ferreira que também tentou inscrever um jogador (seria o Mateus?) nas mesmas condições.
O Paços recuou, mas o Gil avançou.
Não há mais nada para ser esclarecido, Cunha Leal já explicou a ‘inventona’ do Fiúza! Sobre o episódio caseiro que o provérbio clarifica, resta repeti-lo, as vezes que forem precisas: “casa de pais, escola de filhos”...e netos e de certos juízes e de certos aguiares do Porto, que amanhã jurarão com os pés, que não se pronunciaram sobre o assunto, que foram os outros meninos que disseram isso...que são feios e maus!
E ainda, de certa jornalista-colunista, mas sobretudo, nacional-benfiquista!
A dita cuja continua a infantilizar-se e a infantilizar os leitores do jornal “A Bola”! Não percebeu, nunca vai perceber, que se trata apenas de cumprir ou não cumprir a lei, fazer baixar ou não fazer baixar o Gil Vicente à Liga de Honra, mais nada. O que vem a seguir é outra história; quem vai beneficiar directamente com o cumprimento da lei, se é o Belenenses ou outro clube qualquer é outra questão, porque com o cumprimento da lei beneficiam sempre todos os clubes participantes! Se calhar fui explícito demais, a senhora pode não ter alcançado.
Anda a bolçar verdade desportiva e eu sei porquê! O inconsciente, a inconsciência, lembra-lhe aquele episódio que deveria ter levado o Benfica a baixar de divisão, se a lei também tivesse sido cumprida! Pois é, a cena das dívidas à segurança social, as certidões falsas, tudo apagado, abafado, ‘endrominado’...porque naturalmente estava em jogo a ‘verdade desportiva’ do clube do estado, do povo, do partido, da classe operária, etc.etc. e no etc. é que está a chave do problema.
Uma pergunta: para que servem estes colunistas!? Isto vende?
Agora, outra pergunta: o comentador desportivo Sócrates, também primeiro-ministro quando não está ocupado com o futebol, saberá que a fraude organizada e generalizada já se instalou, sem qualquer pudor, nas competições desportivas!?
Última pergunta: desconfiará Sócrates que quando a fraude se instala na competição desportiva é sinal certo e seguro que o corpo social já está todo contaminado!?
Saudações azuis.

domingo, junho 11, 2006

Enforquem-se com a verdade desportiva

Isso mesmo, apertem bem os cachecóis da alienação, até à asfixia, e depois gritem bem alto “viva a verdade desportiva”! Se ainda há fôlego, quero ouvir o guincho: viva o futebol português! E descansem em paz.
Não cumpram a lei, não punam os infractores, que não é preciso. Sejam felizes, agitem as bandeirinhas, distribuam já as medalhas, comecem pela Liga, sigam para a Federação, não se esqueçam do secretário de estado, seja ele qual for.
Azia? Mau perder?
Erro. Isto não tem nada a ver com o Belenenses, não é um ‘particular’ entre o Belenenses e o Gil Vicente, como andam para aí a enganar as pessoas, isto tem a ver com o cumprimento ou incumprimento duma norma simples e objectiva: quem recorrer para fora do ordenamento desportivo para aí obter uma vantagem sobre todos os outros competidores, é punido com a descida de divisão.
Mateus não podia jogar no mesmo ano na condição de amador e profissional, esta a questão. Conseguiu ultrapassar essa impossibilidade recorrendo aos tribunais comuns e jogou, até marcou golos, mas isso é indiferente. A Académica protestou, o Vitória de Setúbal também protestou, invocaram os motivos que entenderam invocar, o que também é indiferente, porque quem deve zelar pelo cumprimento das normas que regem o futebol profissional é a Liga e a Federação, porque são estas entidades que as produzem e que dispõem dos competentes organismos jurisdicionais.
Repito, não cabe aos clubes, individualmente, assegurar o cumprimento do normativo desportivo que todos se comprometeram voluntariamente a respeitar.
Não cabe portanto ao Belenenses a iniciativa de suscitar uma questão que era há muito do conhecimento da Federação e da Liga! Não se enganem, o eventual ‘beneficiado’ com o cumprimento da lei, não é o Belenenses, são todos os clubes da Liga, incluindo o Gil Vicente. Se assim não acontecer, o futebol não tem qualquer credibilidade pois cada um faz o que lhe apetece, desde que conte com o ‘colaboracionismo’ infame dos ‘donos da bola’!
Foi aliás o que se passou vergonhosamente esta semana na Comissão Disciplinar da Liga, onde aconteceu de tudo: Um filho do vice-presidente do Gil Vicente que deixou de o ser quando chegou ao Porto, uma votação assumida em Lisboa que se alterou no Porto, um ‘voto de qualidade duvidosa’, não previsto para um órgão com numero ímpar de membros.
E sem que tenham ocorrido outros factos, a não ser uma diferença de latitude, e uma viagem de um dirigente da Liga com um envelope, pelos vistos violado, o envelope, claro.
Vir, depois disto, falar de verdade desportiva, obtida dentro das quatro linhas só pode ser brincadeira de mau gosto! Mas realmente explica, e de que maneira, qual é a verdade desportiva que esteve presente no desenrolar do campeonato.
Esta cena edificante que já levou à demissão de dois juízes e à extinção, por falta de quórum, da dita ‘comissão disciplinar da liga’, promete realmente desenvolvimentos interessantes e pela minha parte espero que cale de vez essas virgens ofendidas que gostam de proclamar a verdade desportiva quando não estão em causa os interesses dos clubes do estado, com letra pequena.
Termino com este desafio entre o Belenenses e o resto do mundo: se entendem que é ilegítimo que o meu Clube, o provável beneficiado pela aplicação da lei, aceda à primeira Liga por um motivo qualquer que não vislumbro, realizem o próximo campeonato com quinze clubes, porque o Gil Vicente, esse, a ser cumprida a lei, tem que descer.
Saudações desportivas.
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(Publicado também no 'Interregno')

sexta-feira, junho 09, 2006

Mateus e a “verdade desportiva”

Desço pela primeira vez às profundezas do ‘caso Mateus’, não pelos tortuosos caminhos da lei, que os justos nunca conseguirão decifrar, mas pelas largas avenidas do senso comum, para dizer de minha justiça:
E começo por jurar fidelidade à ‘verdade desportiva’ no sentido mais lato e objectivo do termo, ou seja, a que resulta do cumprimento de todas as regras que interfiram com a respectiva competição, melhor dito, aquelas de cujo incumprimento resulta ou pode resultar benefício para um ou mais contendores em prejuízo de outro ou de outros.
Claro que todos admitimos que a ‘verdade desportiva’ não é, nem nunca será uma verdade absoluta, é um mero anseio do qual nos tentamos aproximar o mais possível. E é precisamente nessa tentativa de chegar mais perto ‘da verdade desportiva’ que assenta a blindagem da regulamentação competitiva, dispondo inclusive de órgãos jurisdicionais próprios, para que todos os contendores se sintam em igualdade de circunstâncias.
Esta excepção normativa decorre naturalmente do espírito do legislador constitucional, que passou obviamente para a legislação ordinária e daqui para a regulamentação desportiva. Simples e lógico.
É por isso que não se entendem as reacções, de proveniência catedrática, que argumentam o drama constitucional: é proibido proibir, clamam!
Sem razão, porque não é possível obter uma vantagem desportiva sobre todos os outros contendores pela via Constitucional! Se a Constituição servisse para isso, podia existir, mas não vigorava.
E falemos de uma vez a linguagem da verdade: o Gil Vicente resolveu recorrer aos tribunais comuns para obter aquilo que não conseguiria obter, em tempo útil, junto dos organismos judiciais desportivos. No fundo para obter uma vantagem competitiva. A verdade é esta.
E desmontemos então a falácia: o Gil Vicente pode recorrer sempre que quiser, aos tribunais comuns, sujeita-se é a descer de divisão (a pena prevista) se a entidade que rege a respectiva competição entender que o pedido envolve matéria do foro desportivo, e porque é do foro desportivo, é susceptível de desequilibrar a igualdade de condições voluntariamente aceite por todos à partida.
Mais, o Gil Vicente pode também não concordar com outras regras da Liga e abster-se de participar na mesma!
Qual é o problema constitucional que daí advém?
Nenhum, que eu saiba.
Dir-me-ão que a constitucionalidade dos normativos pode ser sempre questionada. Isso é uma evidência, como também é evidente que o espírito do legislador constitucional se resguardou da tentação de interferir na marcação de grandes penalidades ou de decidir sobre a legalidade dos foras de jogo!
E fez bem.
Curiosamente, quando decidiu recorrer aos tribunais comuns, o Gil Vicente não justificou esse procedimento alegando a inconstitucionalidade do tal artigo 63º!
Porquê?
Porque estava convencido que o pedido não tinha reflexos na competição desportiva, em que era um dos participantes!?
Porque afinal aceita de boa fé a constitucionalidade do ordenamento desportivo que rege a sua participação e a dos outros clubes na Liga!?
Não vale muito a pena insistir nesta questão uma vez que os factos falam por si! Foi a decisão do tribunal comum que permitiu a utilização do jogador Mateus no campeonato da Liga...onde jogou quatro jogos!
E não jogou mais porque entretanto foi detectado o erro e a infracção.
Mas agora pergunto: quem se esqueceu de punir imediatamente o infractor?
Quem assobiou para o lado enquanto o Gil Vicente prevaricava?
A Liga e a Federação, naturalmente.
Uma última questão: mas afinal é aos clubes, individualmente, que cabe defender o cumprimento do ordenamento desportivo?
E no caso em apreço, é ao Belenenses que cabe a iniciativa de assegurar que não se faça ‘batota’ na Liga?
Obviamente que não.
E se ninguém protestasse, acabava tudo em bem?
É por causa de todas estas perplexidades e incongruências que eu estou convencido que não haverá coragem para fazer justiça e se optará mais uma vez por uma solução que agrade a todos!
A propósito, quando é que são as próximas eleições na Liga? E na Federação?
Saudações azuis.

segunda-feira, junho 05, 2006

Noticiário alternativo

A selecção nacional de futebol chegou à Alemanha aclamada em triunfo pelos milhares de emigrantes portugueses que ali trabalham. O jornal “A Bola” acrescenta que “ os alemães também se associam à lusitana paixão”!
Para lá dos exageros e da natural alegria que sempre suscita uma representação nacional, o histerismo colectivo também anuncia o nível de alienação de um País reduzido à sua expressão mais simples: hoje, o que temos em comum é apenas a selecção!
É pouco.
Entretanto Scolari continua a revelar-se um exímio condutor de homens, que conhece como ninguém a importância de um grupo unido e fiel, independente de vedetismos ou outras manobras de diversão.
Incluem-se nestas manobras a absoluta necessidade de valorizar ‘activos’ destinados a venda. E que melhor ‘montra’ do que uma selecção presente no mundial da Alemanha?
Aliás e ainda dentro do mesmo esquema, as notícias de prováveis aquisições, ou interesse na compra dos enormes craques que militam nos três clubes do Estado, inundam os jornais desportivos. Os jornalistas-empresários no seu melhor!
No fim do campeonato do mundo, continuaremos, pacientemente, a aguardar explicações convincentes de Valentim, Madaíl e Vicente Moura sobre as alternativas às receitas perdidas pelo facto da redução de clubes de dezoito para dezasseis, nos campeonatos organizados pela Liga.
No Belenenses vive-se uma atmosfera de ‘vida suspensa’. Aguardam-se planos de viabilização, assembleia, decisão sobre o caso ‘Mateus’, etc.
Com tantas interrogações, uma grande interrogação sobreleva:
Esta Direcção, que representa a ‘situação’, que foi eleita pela mesma ‘situação’, situação que inclui muitos dos que agora terão que ser afastados ou despedidos, terá ela própria condições para levar a efeito e até às últimas consequências o tal “plano de viabilização”?!
Mais simples, terá esta Direcção a independência, a lucidez, e a coragem para cortar a direito?
Enquanto ficamos a pensar na resposta, a imprensa desportiva notícia: concluíram-se, com honra para ambas as partes, as negociações para a renovação do vínculo contratual com Marco Aurélio. Ao menos aqui, portaram-se bem os actuais dirigentes do Clube.
Saudações azuis.

quinta-feira, junho 01, 2006

Mais vale tarde...

Afinal a Direcção resolveu viabilizar uma Assembléia-Geral Extraordinária para prestar esclarecimentos aos sócios. Melhor assim.
Não vou remexer mais no assunto, já expliquei largamente qual o meu ponto de vista, e, portanto só me resta aguardar pacientemente pela data, hora e local do evento. E pela oportunidade de ser esclarecido.
Entretanto fica aberto o debate sobre o denominado “Plano de Intervenção”.
Sobre este assunto, gostava que o citado documento estabelecesse com clareza, logo no seu preâmbulo, um conjunto de princípios sem os quais qualquer “intervenção pontual” estará condenada ao fracasso. Mais um.
Explico:
O Belenenses é um clube de futebol e deve recentrar-se em torno dessa modalidade fundacional. Sem futebol o Belenenses não existe, morre.
As restantes modalidades e actividades nasceram à sombra da grandeza do futebol e por isso devem conformar-se com esse estatuto.
Como imediato corolário do que se reafirma, e atendendo à crise ininterrupta que assola o Clube, todos os recursos disponíveis terão de ser canalizados para salvar o futebol, ou seja, para salvar o Clube. E sabemos que mesmo assim não chegarão, teremos que os ‘inventar’!
E quando se diz, salvar o futebol do Belenenses, quer isto significar devolver-lhe o estatuto de grande clube do futebol português, grandeza que se mede na única maneira conhecida: com resultados desportivos.
Já não há lugar para as habituais meias medidas, para agradar a todos! Precisamos de um corte mais do que transversal, radical. Mas não no futebol, porque aí vai ser preciso investir e muito.
Desde logo na formação, com o objectivo primário de dentro de dois anos estarmos a disputar as fases finais de iniciados, juvenis e juniores. Sem reticências.
O facto de podermos hoje exibir alguns jogadores oriundos das nossas camadas jovens é sem dúvida interessante, mas não é disso que se trata.
Há quanto tempo não disputamos com regularidade as fases finais dos campeonatos das camadas jovens? A questão é esta.
O outro objectivo imediato será naturalmente construir uma equipa sénior competitiva, que lute sistematicamente pelos primeiros lugares do campeonato.
Atravessamos um momento delicado em termos de sabermos se descemos ou não de Divisão! Um momento difícil e triste, independentemente da solução que venha a encontrar-se para resolver o caso “Mateus”! Neste sentido teremos de unir esforços e esperar que se faça justiça.
Em matéria de grandes princípios orientadores, aproveito esta oportunidade para propor a filosofia que doravante deve vigorar em relação às modalidades ditas ‘profissionalizantes’:
O Belenenses autoriza e faculta o uso da sua camisola e insígnias, nas seguintes condições cumulativas:
- Não prejudicar a prática e desenvolvimento do futebol;
- Independência financeira;
- Discutir o primeiro lugar nos campeonatos em que estejam envolvidas;

Um último grande princípio de intervenção, indispensável no país em que vivemos:
O Belenenses tem que ter voz própria, e incómoda, porque não estamos no poder há muito tempo, tempo demais, e queremos lá estar, porque todos sabemos como funciona o futebol português!
Para a comunicação social valem os mesmos motivos e razões.
Assim termino, na expectativa de ter acertado em cheio nos princípios que irão orientar o Belenenses no futuro, pondo fim à crise perpétua em que vivemos.
Saudações azuis.