sexta-feira, junho 29, 2007

Bucha e Estica outra vez!

Às vezes sinto-me recompensado!
Escrevi tanto contra o emagrecimento da primeira Liga e nem passou um ano e já toda a gente concluiu que foi um disparate! Toda a gente, ponto e vírgula, porque os promotores da ideia ainda se refugiam em argumentos patéticos, que escondem as suas reais intenções! Se bem me lembro, o entusiasmo pela redução (para dezasseis clubes) partiu da santa aliança entre os três clubes do estado, o Madaíl das selecções, e o Governo, através do secretário de Fafe, o nosso conhecido Laurentino!
Sem me esquecer naturalmente do séquito de ‘jornalistas’ afectos aos interesses imediatos de Benfica, Sporting e Porto.
Lembramo-nos também que a decisão foi tomada, como é habitual, à revelia dos homens do futebol, foi assunto de colarinho branco.
Agora, o argumento patético da ‘aliança do ponto e vírgula’ não podia ser mais esclarecedor: - “os problemas do futebol português são mais profundos”! Grande novidade, mas ninguém se atreve a pôr o dedo na ferida, ninguém se atreve a apontar o verdadeiro caminho, porque esse caminho passa pela inevitável dieta das três vacas sagradas que sustentamos a pão-de-ló, enquanto o resto do pessoal se contenta com as migalhas.
Não há volta a dar, uma indústria que vive da competitividade, não pode manter e alargar sistematicamente o fosso que existe entre os três clubes ditos grandes e os restantes. E estamos todos de acordo que nada se resolve com reduções ou acrescentando voltas ao campeonato, resolve-se sim, com a valorização do campeonato interno em detrimento das provas europeias e das selecções. Ou seja, resolve-se no dia em que percebermos que as casas não se constroem a partir do telhado, mas a partir dos alicerces. E como esta mentalidade é um problema nacional, terá de ser o Governo a dar o pontapé de saída, para ver se assim conseguimos construir um futebol competitivo e rentável. Para o efeito convém não esquecer três verdades essenciais: a selecção vem a seguir aos clubes, os campeonatos europeus vêm a seguir aos campeonatos internos, e quando falamos em clubes, são todos os clubes.
Saudações desportivas.

quarta-feira, junho 27, 2007

Política de aquisições

As grandes verdades de hoje são as mentiras de amanhã! Será assim?
Penso que não, o futebol é um jogo simples onde a simplicidade costuma resultar. É também com simplicidade que expresso a minha satisfação pela forma discreta e eficaz com que os responsáveis azuis têm tentado colmatar brechas e lacunas, no sentido de construirmos um Belenenses mais competitivo e mais forte. Tenho naturalmente que sublinhar que confio plenamente nas capacidades de Jorge Jesus para levar a bom porto tal tarefa, penso inclusivamente que é dos treinadores que melhor conhecem e trabalham a ‘matéria-prima’ deste jogo – o jogador, o atleta e o homem.
Dito isto vou enveredar pelos caminhos da subjectividade, e com a comodidade de não haver contraditório:
Em primeiro lugar partimos para a competição com a vantagem de mantermos a estrutura base da equipa: Guarda-redes, eixo defensivo, transição ofensiva e goleador.
Nesta espinha dorsal existem jogadores inegociáveis, que o mesmo é dizer que só deverão ser negociados face a propostas irrecusáveis, a saber – Rolando, Nivaldo, Amorim e Dady. Não é que não existam no actual plantel outros jogadores de categoria e importantes na manobra da equipa, mas por uma ou outra razão, em caso de saída, teríamos sempre mais facilidade em encontrar substitutos à altura.
Entretanto e conhecidas as dispensas estou convencido que adquirimos um bom trinco para o lugar do Sandro Gaúcho, assim como a aquisição de Mendonça visa dotar o ataque de um ‘meia ponta’ perigoso e fisicamente dotado.
Gostaria de continuar com o Fernando, tecnicamente acima da média, penso que poderá fazer uma época mais convincente, ajudando também na transição ofensiva, que como se lembram é o nosso calcanhar de Aquiles e cujo mercado é praticamente inacessível. Não é por acaso que os ‘clubes do estado’ (leia-se, Benfica, Sporting e Porto) andam sempre à pesca desses jogadores. O Hugo Leal pertencia a essa casta, veremos se o Jorge Jesus ainda consegue fazer alguma coisa dele!
Para o fim deixei o tema dos empréstimos/trocas de jogadores, prática corrente em todos os clubes e latitudes e sinal seguro de falta de liquidez, fenómeno também generalizado.
Tenho lido (e sentido) na blogosfera azul uma enorme aversão a empréstimos, trocas, ou outros negócios com os tais clubes do estado. A reacção denota um complexo de inferioridade pouco saudável, mas eu compreendo as razões, já que temos sido quase sempre vigarizados! No entanto discordo do princípio, e já o tenho referido, só poderemos ter medo de ser prejudicados se nos apresentarmos de cócoras à mesa das negociações, pois desde que isso não aconteça, nem vejo porque não poderemos negociar um empréstimo com o Bruno Vale, por exemplo, na condição de ganharmos alguma coisa em futura venda do jogador, e à conta da respectiva valorização. O que temos é que defender os nossos interesses e para isso servem as cláusulas contratuais.
Saudações azuis.

sábado, junho 23, 2007

O Anuário das desigualdades

Como é hábito, uma vez por ano e em colaboração com o jornal “A Bola”, a empresa Deloitte publica sem o saber um retrato do Portugal contemporâneo. A fotografia é a preto e branco e refere-se ao futebol como se poderia referir a todas as vertentes da vida nacional! É caso para dizer: diz-me o futebol que tens, que eu digo-te quem és.
Vamos então fazer uma breve análise comparativa dos números apresentados mas seguindo uma orientação diferente da Deloitte e com conclusões também diferentes.
Conclusões diferentes porque o relatório daquela empresa não é neutro, expressa uma mágoa, e não parece nada interessado em apontar o caminho da salvação!
A mágoa sente-se desde a primeira página quando insiste em comparar as receitas e as despezas dos grandes clubes europeus, aqueles que militam em Ligas competitivas e rentáveis, com as receitas e despezas de Benfica Sporting e Porto, que como sabemos, dominam há mais de meio século e de forma hegemónica uma ‘indústria’ futebolística falida, que sobrevive à custa de subsídios do orçamento de estado e de aldrabices. Curioso que não se tenha lembrado de comparar os salários mínimos em vigor nesses mesmos países, Espanha, Inglaterra, França ou Alemanha, com o miserável salário mínimo português!!! E por aí é que o estudo deveria ter enveredado mas para tirar outras conclusões, que nos deviam envergonhar a todos, e ser motivo de preocupação de Governos e polícias!
O que era interessante comparar e frisar, não era o fosso que existe entre Portugal e os seus parceiros europeus, em todos os domínios, esse é um problema de política interna, tal como a regeneração do nosso futebol também é. O que temos que comparar e está ao nosso alcance corrigir, diz respeito ao fosso existente entre os três clubes chamados grandes e os restantes clubes da Liga. E não é preciso inventar nada, basta copiarmos as reformas que foram feitas, por exemplo em França, ou aqui mesmo ao lado, em Espanha. Nesse sentido o estudo da Deloitte poderia por um momento esquecer-se de comparações megalómanas e perguntar-se porque é que um clube da segunda Liga espanhola é um potencial comprador de quase todos os jogadores que alinham na primeira Liga portuguesa! Aqui é que bate o ponto.
Para o fim deixo à Vossa consideração os números da vergonha:

Super Liga (2005/06)
Custos totais:
Benfica, Sporting e Porto – 180 milhões de euros
Restantes quinze clubes ---- 95 milhões de euros
(Belenenses) ………………(7,4)

Receitas totais:
Benfica, Sporting e Porto…….149,6 milhões de euros
Restantes quinze clubes……… 89,0 milhões de euros
(Belenenses) ……………………. (6,3)

Segmentação de receitas (televisão):
Benfica, Sporting e Porto………22,6 milhões de euros
Restantes quinze clubes………...23 milhões de euros

Conclusão: Face a estes números queremos organizar que tipo de competição (escolha uma das hipóteses):

1. Campeonato nacional?
2. Campeonato litoral (a norte do Tejo)?
3. Campeonato entre pobres e ricos, com os pobres a jogarem descalços e os ricos com botas cardadas?
4. Ou preferimos continuar a sustentar os sonhos europeus de três clubes à custa do empobrecimento geral?

Nota básica: Os Presidentes da Federação e da Liga deveriam ser obrigados a responder a este inquérito. E o Governo também.

Saudações azuis.

quarta-feira, junho 20, 2007

Vicente

“Ele, sim, mordeu o pó da paixão. Nunca vestiu outra camisola senão aquela que tem a Cruz de Cristo. Um amor incomensurável que o leva a nem sequer se sentir frustrado por nunca ter sido campeão. Vicente Lucas é eternamente grato ao Belenenses. E irrita-se se alguém lhe disser que o clube pode fazer mais por ele, como o Benfica faz por Eusébio. Vicente é de valores, fiel a princípios. Jamais aceitou ser Matateu II por ser irmão do astro que levou ingleses à designação da Oitava Maravilha do Mundo. Prefere ficar para a história como a sombra de Pelé, magriço de 1966, simplesmente Vicente”!

Texto de abertura de uma longa entrevista feita a Vicente Lucas pelo jornalista Paulo Jorge Neves, e publicada no jornal "A Bola" de hoje, dia 20 de Junho de 2007. Com a devida vénia, transcrevo alguns excertos:

“Vive bem?
- Vivo como quero. O clube paga-me, ganho bem no Belenenses. Não tenho qualquer problema de dinheiro, nunca tive. Quando era jogador o que ganhava era suficiente: três contos (quinze euros) por mês, que depois passou para cinco contos (vinte e cinco euros). Era um bom ordenado. Um Wolkswagen custava 57 contos e a letra mensal 500 paus. O dinheiro não mandava em tudo. Não tenho uma vivenda mas tenho tudo na minha casa. Como o que quero.
O dinheiro nunca foi o mais importante para si?
- Nunca lhe liguei nenhuma.
Mora sozinho. O que faz no dia-a-dia?
- Acordo às 13 horas. Por volta das três, quatro da tarde saio, apanho o autocarro e venho ter com os meus amigos no Restelo. Sou muito acarinhado pelos sócios, gostam de mim, é aqui a minha casa.
É boa a relação com o seu filho Vicente?
- O meu filho é meu filho. Um bom filho. Em minha casa tem o quarto dele. Vai e vem, traz e leva coisas. Vemo-nos constantemente. Quando tem algum tempo almoça e está comigo um bocado.
Ele na escola fazia lembrar o Vicente mas nunca optou pelo futebol de onze. Porquê?
- Não quis. Não se pode obrigar os filhos a escolher esta ou aquela profissão, este ou aquele clube. Digo-lhe mais, nem sei qual é a equipa pela qual torce. Nem procuro saber. Não me meto nisso.
Os seus outros familiares procuram-no?
- Tenho pouca família. Sobrinhos e primos. Visitam-me e interessam-se por mim…a Argentina, filha de Matateu é uma boa sobrinha.
O Belenenses fez tudo o que poderia ter feito por si?
- Quem me socorreu quando tive o acidente de viação e fiquei sem a vista direita? Quem tratou da minha operação ao fémur? Quem?
Está a ser humilde de mais.
- Ninguém sabe a minha vida. Vivo à minha maneira. Com ou sem dinheiro. Os outros que vivam à sua.
Olha para o Eusébio como embaixador do Benfica e sente que é tão importante e bem tratado aqui no Belenenses?
- É igual, sou tão bem tratado como Eusébio na Luz.
Não sou embaixador. Disseram-me há uma data de anos para ser mas eu não quero. Embaixador para quê? Não posso andar com o clube para todo o lado, como já andei. Já viu: diga-me: o que é que eu vou fazer para um hotel com a equipa?
(…)
Alto Mahé era uma fábrica de talentos. Lembra-se de Coluna?
- Morava ao lado da minha casa. Era quase família. Bom jogador. Vim na mesma altura que ele mas ele chegou primeiro. Vim de barco, ele apanhou avião. Não jogámos na mesma equipa. Ele era do Desportivo e eu do 1º de Maio. Fomos dos primeiros negros a jogar em equipas de brancos da Associação de Lourenço Marques. Naquela altura havia isso, veja lá. Depois saiu a lei que podíamos, que tinha acabado a separação.
Desentendeu-se com Coluna no jogo com os coreanos em Inglaterra. Conte como foi.
- Aquilo estava a correr mal. O Coluna chegou ao pé de mim e disse: Estás a marcar quem? Respondi-lhe logo: E tu? Quem estás a marcar? Não nos estávamos a entender. Eram todos muito, muito parecidos. E eles a meterem golos…
(…)
Nunca ganhou o campeonato. É a sua maior frustração?
- Fui vice-campeão, ganhei a Taça de Portugal e duas Taças de Honra, fui terceiro no Mundial-66. É assim…Não fui campeão, e então? Não há que chamar-lhe frustração não há que lamentar. Fizemos o melhor que sabíamos.
A maior alegria foi a Taça, em 1960?
- Foi, juntamente com o terceiro lugar no Mundial.
O que lhe vem mais à memória do Mundial de 1966?
- Estarmos no hotel em Manchester, apurados para as meias-finais, e o Otto Glória mandou-nos fazer as malas. Tínhamos que ir jogar a Londres, quando a Inglaterra é que tinha que ir a Manchester. Fomos de comboio. Desgastaram-nos.
Matateu…
- Não falo do meu irmão. Vão logo dizer que o estou a defender. Desculpe-me.
Não faz mal. Porque é que não gosta dos jornalistas?
- Não é dos jornalistas. Detesto aparecer.
(…)


















Diz-se que geralmente ‘secava’ Pelé. É positivo o saldo dos confrontos com aquele que é considerado o melhor jogador de sempre?
- Joguei contra ele seis vezes. Duas vitórias, dois empates e duas derrotas. Não fiz nada de especial, nunca o meti no bolso, como gostam de dizer.
OK. Qual foi o jogo em que lhe deu mais trabalho?
- Todos pensam que foi no Mundial. Foi difícil marcá-lo em todos os jogos. Mas vocês só falam de Pelé. Encontrei jogadores anónimos que fintaram, marcaram golos, fizeram tudo comigo. Desses ninguém fala.
Quem era mais difícil de marcar: Pelé ou Eusébio?
- São jogadores com diferentes características e posições. O Eusébio como vinha de trás e podia aparecer em todo o lado, marcava-o à zona. O Pelé como ficava lá ao pé de mim, não lhe podia conceder um milímetro, se fosse á casa de banho, ía com ele.
É verdade que Pelé levou porrada até dizer chega?
- Não vi nenhuma, sem ser aquela do Morais naquele famoso lance. As pessoas estão sempre a defender o Pelé mas esquecem-se que ele era um jogador malandreco. A jogar metia o pé por cima da bola e mais nada”.

E agora...”corta Vicente” famosa expressão que entrou para o domínio coloquial em homenagem à destreza, oportunidade e capacidade de desarme desta nossa pérola moçambicana. No meu caso porque o texto já vai longo e pode ser lido na íntegra, como acima afirmei, na edição de hoje do jornal “A Bola”.
Saudações azuis.

segunda-feira, junho 18, 2007

Transparência

E exigência deve ser o nosso lema a partir de agora, e para isso exigimos transparência na gestão do clube, para dentro e para fora, para dentro, não escondendo dos sócios e simpatizantes a realidade em que vivemos, não escamoteando responsabilidades pelo não pagamento, por exemplo, e durante uma série de anos, de contribuições e impostos que já sabíamos que nos seriam exigidos mais tarde ou mais cedo. Para fora, no sentido de fazermos valer os nossos direitos, na mesma medida que Benfica e Sporting, que tudo obtêm da Câmara Municipal de Lisboa sempre que precisam, e com a rapidez de um fósforo, enquanto que nós, belenenses, nos resignamos a um estatuto inferior!
A Câmara de Lisboa vai a votos não existe portanto melhor oportunidade para exigir um tratamento equitativo de acordo com a nossa grandeza, pois somos um clube de Lisboa que, ao contrário de outros, continua a investir tudo em Lisboa, temos por isso direito a todas as facilidades e apoios. Assim, onde pára o nosso projecto imobiliário? Porquê tantas dificuldades e delongas nos licenciamentos? É ou não do interesse da Câmara que o Estádio do Restelo seja um ex-libris da cidade?
Claro que estas perguntas exigem da nossa parte outro dinamismo, outra capacidade de intervenção, muito mais acutilante face aos organismos públicos, semi-públicos ou autárquicos, que só têm razão de existir quando cumprem a sua função primordial de apoio à sociedade civil, onde neste caso entra o Belenenses.
Mas estas perguntas apelam sobretudo para uma maior exigência interna, para uma gestão racional e criativa dos meios que temos à nossa disposição, temos que fazer opções de fundo, apostar no futebol e nas vitórias, única linguagem que é perceptível no mundo de hoje. Não vale a pena insistirmos nas derrotas, seja em que modalidade for.
O período eleitoral já terminou e não me esqueço das palavras avisadas de Gouveia da Veiga sobre as dificuldades que se avizinhavam, mas o tempo é de unidade e apoio a esta Direcção, porque isso tem de significar apoio ao Belenenses. Mas para que isso seja verdade torna-se indispensável que a mesma Direcção corresponda dando claros sinais de transparência e exigência.
Em concreto, viabilizaremos na próxima Assembleia-geral as necessárias garantias que possibilitem o pagamento faseado da dívida e continuaremos a pugnar para que a Câmara de Lisboa tome como suas as dores do seu ilustre munícipe – Clube de Futebol “Os Belenenses”.
Saudações azuis.

sexta-feira, junho 15, 2007

Um livro, um filme...

Sou belenense, vou escrever um livro, talvez faça um filme. Nas primeiras imagens vê-se o Tejo, seguido de um grande plano das Salésias, estamos em meados do século passado, os protagonistas do lance capital já morreram, mas a câmara mostra o guarda-redes do Sporting a safar a bola de dentro da baliza, quase um metro, o árbitro não viu, os foguetes recolhem a penates, coração ao alto, havemos de ganhar para a próxima. A esperança prossegue no Restelo e na memória fica um lance que envolveu o próprio Cristo-Rei! Matateu marca um canto do lado poente, junto ao rio, a bola desafia as leis da física, abraça o Redentor e ainda assim vai anichar-se na baliza do Benfica. Costa Pereira, keeper encarnado, fica confuso, o árbitro resolve anular o golo!
O filme avança no tempo e chega ao intervalo com a mesma história – Benfica e Sporting dominam amplamente o futebol português, o Porto continua cercado, resignado a comer tripas, o regime delicia-se em Lisboa e explora em seu benefício a hegemonia do casalinho verde e encarnado. As anedotas do Calabote correm o país, era no tempo em que os jogos só acabavam quando Benfica e Sporting estavam a ganhar! Quando algum belenense protestava, era de imediato silenciado com a insinuação de que tinhamos um presidente da República que nos ajudava a não ganhar campeonatos! Tinha lógica.
Na segunda parte o filme muda completamente, começam por se ver muitas bandeiras encarnadas cheias de foices e martelos, o país aparece dividido pelo paralelo de Rio Maior, a algazarra leva os clubes do sul à falência ou atirados para divisões secundárias, enquanto o dinheiro foge para o norte. Nesta altura emerge um personagem que com determinação e astúcia reconstitui a partir do Porto um esquema idêntico ao que tinha assegurado a anterior hegemonia de Benfica e Sporting. E fá-lo com pleno êxito!
Mas as cenas repetem-se, os antigos patrões não se conformam e conspiram, os espoliados de sempre, gente miúda com tendência para migalhas, apoia, já tem saudades do casalinho, os jornais afectos não desarmam, Lisboa volta a ganhar importância política face ao país, prepara-se o golpe.
A oportunidade surge envolta num romance tórrido entre o homem do norte e uma jovem de alterne, cena fadista, de faca e alguidar, a rapariga que antes deitava fogo pelo dragão, transforma-se num ícone do terceiro anel, denuncia e entrega o amante desesperado! Nesta altura os espectadores do sul comovem-se até às lágrimas, e esperam pelo milagre. Ele acontece, a grande muralha da China abre-se para deixar passar a justiceira do povo!!!
Os próximos capítulos entram pelo nosso quotidiano, o homem do norte é ameaçado com o degredo, o casalinho rejubila e espreita a oportunidade para restaurar o seu domínio benfazejo. Lisboa precisa, o país merece, o mundo agradece.
O filme acaba na praia do Restelo com um velho belenense a vociferar que já viu este filme do vira o disco e toca o mesmo.
Mas ninguém quer acreditar.
The end.

segunda-feira, junho 11, 2007

All Stars

Confesso que não gosto dos jogos a feijões, nem gosto de me extasiar com as jogadas de sonho que por lá se praticam. Não critico quem aprecia mas penso que o futebol é competição, competição colectiva entre equipas de clubes e nessa rivalidade primária me embalo. Por esse motivo gostava de ver jogos do campeonato de reservas como continuo a torcer para que os nossos juniores vençam os seus adversários.
Mas estes jogos de exibição, que metem escritores, políticos, corredores de automóveis, não me convencem, a não ser que me convidem para jogar também!
Claro que respeito a iniciativa, assim como as boas causas que os motivam, mas fica-me a sensação que existe ali uma selectividade exagerada, que mais não é que a propaganda da ‘malta’ do costume!
Pergunto, convidaram alguma glória do Belenenses para dar uns toques com o Chico Buarque?! Ou reduziram mais uma vez o futebol português ao Benfica, Sporting e Porto?!
Pronto, mudemos de assunto, e não querem lá ver que vamos dar ao mesmo assunto! Porque é que o Rolando e o Ruben Amorim não jogaram de início na nossa selecção, para dar lugar a uma selecção de craques que afinal foi vulgarizada pela equipa da Bélgica!
Será que existem interesses ocultos na valorização de alguns jogadores em prejuízo de outros!
Será que os organismos federativos pensam que somos ‘All Estúpidos’!
Saudações azuis.

quinta-feira, junho 07, 2007

Quando se falará verdade em Portugal?

Tencionava abordar o tema por minha conta e risco, mas Jorge Olímpio Bento antecipou-se no jornal “A Bola” de hoje, por isso, com a devida vénia, resta-me transcrever um excerto do elucidativo texto!
No final acrescentarei então um comentário da minha lavra, para suprir a lacuna habitual – os interesses dos outros clubes, daqueles que nunca contam.

“Entre nós só o discurso económico é que conta. É o único e é imposto por todos os meios e em todos os quadrantes, como inevitável, logo, sem alternativa. Só é bom aquilo que satisfaz a economia; só isso é que serve o interesse nacional. Sendo que economia não se referencia mais às pessoas, mas apenas ao mercado; e ‘nacional’ não quer dizer o todo, nem sequer a maioria, mas uma minoria cada vez mais favorecida e apartada do resto.
O discurso revela, sem sofismas, quem é quem, de que lado está, os ideais que perfilha e os fins que persegue. Por maiores que sejam o engenho e arte dos enganadores.
Enfim, o conceito de economia hoje vigente é uma falsificação.
Também é assim no futebol.
A venda de jogadores para clubes estrangeiros é saudada como sucesso estrondoso. E é certamente para alguém, mas não para os nossos clubes. Estes têm estádios e despesas enormes mas ficam sem meios para singrar nas provas europeias, para praticar um futebol que entusiasme os adeptos e que possa gerar as tão necessárias receitas.
Ficam mais longe dos concorrentes internacionais e o dinheiro entrado em nada diminui o défice que se vai acumulando; as folhas de ordenado das SAD aumentam e a gestão ruinosa não é contida. Os números não enganam.
Quem ganha então com isso? Toda a gente sabe, mas não quer responder, prefere viver no engano ledo e quedo.
Quando se falará verdade em Portugal?”

O comentário é o mesmo de sempre: a questão levantada pelo autor tem toda a pertinência e denuncia o logro em que vivemos, mas ainda assim desconfio que só estava a pensar nos três clubes do estado. E os outros? Que nem sequer conseguem vender jogadores?
Saudações belenenses.

quarta-feira, junho 06, 2007

O nosso treinador

Chegou agora o tempo para fazer o ponto de situação de uma época a todos os títulos brilhante, e na melhor altura, no dia em que Jorge Jesus dá uma grande entrevista ao jornal “A Bola”.
E não há melhor começo do que Jesus para começar:
Temos um grande treinador, desassombrado e sem medo das palavras, que às vezes soam a vaidade, mas que significam apenas um grito de afirmação de quem subiu a pulso na carreira, sem ajudas, mas pelos seus méritos. Mas Jorge Jesus tem mais mérito porque é difícil treinar o Belenenses, um clube onde poucos conseguem ter êxito, porque já foi grande e já não é, porque ainda tem na memória as conquistas do passado, mas que ao mesmo tempo parece incapaz de recuperar o terreno perdido. E que ainda assim não consegue atirar a toalha ao chão, num gesto de rendição, porque sente uma estranha obrigação de corresponder, de tentar reconquistar um lugar entre os grandes do nosso futebol. Este estado de espírito não ajuda os treinadores que chegam ao Restelo e se propõem, realisticamente, realizar um trabalho de acordo com as condições que o clube actualmente oferece, mas que acabam quase sempre confrontados com uma ambição maior que a realidade! Mas foi precisamente neste ponto decisivo que Jorge Jesus soube dar a volta ao texto, às vezes com sorte, é certo, mas principalmente com sabedoria, com o tal ‘saber de experiências feito’, de que falava o poeta!
Reconstruiu uma equipa com os jogadores que tinham descido de divisão, foi buscar dois ou três elementos essenciais, escolhidos a dedo, Nivaldo e Alvim, pôs o Belenenses a jogar à bola, inventou um ponta de lança de sucesso, deu forma a uma série de jogadores que passavam despercebidos, Marco Gonçalves, por exemplo, valorizou alguns dos jovens provenientes da ‘cantera’, em suma, fez aquilo que só os grandes treinadores conseguem fazer – transformar o que parecia não ter valor em activos cobiçados por clubes de nomeada. A chamada às selecções de uma série de jogadores lançados por Jorge Jesus é o seu melhor cartão de visita!
Na próxima época Jesus já sabe que será avaliado por outra bitola, mais exigente, e por isso mesmo prepara o discurso, com a matreirice de quem também sabe que o futebol não é uma ciência exacta. Diz ele que será difícil repetir uma época tão positiva, e ao mesmo tempo…prepara o milagre!
Termino com um desejo que é subscrito por todos os belenenses: que Jorge Jesus tenha a sorte que merece…e que o Belenenses seja campeão.

segunda-feira, junho 04, 2007

RTP África

Sábado à tarde resolvi sintonizar a RTP-África para assistir ao jogo entre as selecções de Cabo Verde e da Argélia, jogo incluído no grupo de apuramento para o CAN/ 2008.
O desafio realizou-se na cidade da Praia, em relvado sintético, e apesar do favoritismo da Argélia, que ocupa o primeiro lugar do grupo, a selecção de Cabo Verde deu sempre luta e nunca perdeu a iniciativa! Mas este jogo tinha outros motivos de interesse já que era uma oportunidade para ver em acção algumas caras bem conhecidas. Desde logo o nosso Dady, muito vigiado pelos centrais argelinos, conseguindo ainda assim alguns lances perigosos; também lá estava o Pelé que vendemos para Inglaterra, continua possante e dominador no jogo aéreo, mas com poucos rins perante adversários mexidos e tecnicistas como eram os avançados argelinos.
Aliás, a extrema defesa cabo-verdiana não me convenceu, sofrendo dois golos de bola parada perfeitamente evitáveis. Rodolfo Lima, outro ex-belenense que também entrou, esteve voluntarioso, mas quem se destacou verdadeiramente foram o eterno Lito e o desconhecido Vargas! O jogador da Naval foi incansável a conduzir a bola e a criar perigo na área adversária; é dele o centro que permite o empate à selecção de Cabo Verde, já para lá dos noventa minutos de jogo, assim como foram dele os melhores apontamentos técnicos e tácticos!
Vargas, que não conhecia, é jogador do Olhanense, esquerdino, ligeiro, muito tecnicista, fez o lugar de falso defesa esquerdo, incorporando-se com facilidade no ataque, deixou-me óptima impressão!
Quanto ao jogo em si, a Argélia, que viu o seu guarda-redes ser expulso a meio da primeira parte, por cortar com as mãos, fora da área, um perigoso remate de Dady, ainda assim manteve em respeito a selecção cabo-verdiana, graças a uma maior maturidade e classe de alguns dos seus jogadores. Foi portanto sem surpresa que conseguiu controlar o jogo e o marcador. Cabo-Verde por seu turno nunca desistiu, lutou bastante, e pode dizer-se que só por isso mereceu bem o empate.
Resultado final: Cabo Verde 2 – Argélia 2.

sexta-feira, junho 01, 2007

A síndroma de Alvalade

Nos anos cinquenta, quando passámos dos campos para os estádios, e enquanto estes se construíam, os clubes de Lisboa realizaram alguns dos seus jogos no Estádio Nacional. Foi aí, que ainda criança, me lembro do equipamento amarelo do Sério, guarda-redes do Belenenses, como também me lembro do Travassos e dos seus violinos a apoquentar a defesa azul.
O Estádio Nacional era novo, estava à altura dos melhores que existiam por esse mundo fora, e não se sabe bem porquê, por alturas do Euro, em que (quase) toda a minha gente aproveitou para usar e abusar do dinheiro do Orçamento de Estado para reedificar estádios modernos, o estádio nacional ficou para trás, transformado em museu!
Responsáveis?! Não há.
Eu sei que neste país cada vez mais ínfimo, o que verdadeiramente interessa são o bem-estar e os bons negócios dos três clubes do estado! Eles não tinham dinheiro para a conservação e manutenção dos seus velhos estádios, vá de se organizar um campeonato europeu aqui, nada de ‘vaquinhas’ com a Espanha, orgulhosamente sós, e pronto, mataram-se uma data de coelhos com uma cajadada! Clubes do estado, construtores civis, autarquias, políticos, até o zé da bola ficou radiante. E lá se esqueceram do estádio nacional!
Quem também se esqueceu de si próprio foi o Belenenses!
Hesitante, indeciso, contou os tostões e viu que aquilo era muita areia para a sua camioneta…e não foi a jogo. Recebeu uns trocos para estar sossegado, fez umas obras de fachada e agora queremos jogar ali para a Europa e não nos deixam. Tem que ser em Alvalade! E logo num estádio onde nunca ganhamos.
O meu candidato nas últimas eleições quis trazer a questão do estádio do Restelo para a ordem do dia, mas disseram que não era oportuno, por causa da carreira da equipa de futebol! Agora pouco interessa, dirão, e de certeza que não há responsáveis para o facto de termos que ir jogar a campo alheio…não estando o Restelo em obras!!!
Pois então que se jogue no estádio nacional, no Algarve, em Aveiro, mas não em Alvalade.
Saudações azuis.

Post-scriptum: Entretanto a Direcção do Belenenses emitiu um comunicado endereçando responsabilidades à morosidade dos serviços camarários. Acredito, mas é preciso fazer alguma coisa, não podemos continuar sempre à espera, na expectativa, temos que agir e se for caso disso, denunciar os atropelos.