sábado, setembro 30, 2006

Ponto da situação

AGE
Comecemos por aqui: não fui, mas deixo ficar alguns comentários sobre o que mais me impressionou, a fazer fé no relato do ‘Blog do Belenenses’, a quem envio um obrigado pelo serviço público prestado!
- Barros Rodrigues – “As crianças não querem o Belém. Temos de ser um clube de futebol. Doa a quem doer! (...) “O Belém é o único clube com mais sócios do que adeptos. Não temos condições para ter todas as modalidades”.

Comentário:
Vem ao encontro das posições largamente defendidas neste espaço, e têm a força de quem já teve grandes responsabilidades no Clube. De qualquer modo gostaria de reforçar os argumentos, desmontando outros que vêm fazendo escola para que fique tudo na mesma!!!
Cabral Ferreira disse que o ‘ecletismo’ faz parte dos estatutos! Uma fuga típica à questão de fundo. Os Fundadores, se não fosse o futebol, não teriam fundado o Clube de Futebol “Os Belenenses”. Claro que depois, e como era habitual na época, incluíram nos Estatutos a possibilidade da prática de outras modalidades. Não é por ter a roda da bicicleta no emblema, que o Benfica se sente obrigado a ter essa modalidade a funcionar. Funciona quando lhe convém e sempre com o futebol a justificar esse esforço promocional.
Outro argumento, este mais frequente, vem dizer o seguinte: as modalidades só gastam uns tostões, enquanto o futebol desbarata milhões e não consegue resultados condizentes. Isto, assim dito, até pode parecer verdade, mas não é. As modalidades ocupam espaço, distraem o clube da sua razão de ser, têm custos invisíveis, criam verdadeiras ‘quintas colunas’ nos vários órgãos de gestão do clube, e justificam a vaidade de muitas pessoas que se servem do Belenenses em lugar de o servir!
Mas o argumento decisivo é este, e não tenho medo de ser desmentido: Enquanto o nosso futebol não puder concorrer com os nossos rivais da segunda circular, não seremos nunca grandes em nenhuma das modalidades em que eles resolvam concorrer connosco. Isto vale para o basket, andebol, futsal, atletismo, triatlo, etc! E só não vale para o rugby, porque eles não querem, atendendo ao pouco impacto popular que essa modalidade possui. Em Portugal o futebol é que manda e é quem conduz a carroça a que gostamos de chamar desporto nacional!
Portanto, só o futebol pode tornar ganhadoras as restantes modalidades, aquelas que atraem alguma atenção popular.
Deixem-se por isso de sonhos infantis.
Merecem também reflexão duas outras intervenções na AGE, sem qualquer desprimor para as outras, uma vez que me baseio no relato já citado:
Abel Vieira – “perdemos dois mil sócios por ano”!
Sem comentários.
Elísio Gouveia – “com 300 mil contos por ano investidos em formação, somos um clube de topo”.
Comentário: deduzo que seríamos um clube com capacidade para atrair as jovens promessas que hoje preferem vincular-se ao Benfica, Sporting e Porto, ainda que seja para serem emprestados a outros clubes. Estou a falar de jovens, atenção.
É também minha convicção a necessidade de redobrarmos esforços na área do futebol juvenil.

Salésias - Restelo
Passeio de saudade e reflexão, e que sirva para reencontrar o caminho perdido. O caminho das vitórias. Estamos fartos de perder.

Belenenses – Boavista
Para ganhar.

Saudações azuis.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Os tambores da guerra

A ninguém passou despercebido o tom de ameaça e a linguagem característica de ‘família’ desavinda que estalou entre Valentim Loureiro e Luís Filipe Vieira, com aquele a denominá-lo de ‘arrependido’, atirando-lhe ainda a advertência – ‘não se meta comigo’! Na mesma linha, e aproveitando a disponibilidade que patenteia para usar qualquer canal televisivo, Vieira ripostou com as mesmas ameaças!
A causa próxima desta zanga de comadres é o morto e ressuscitado ‘apito dourado’, mas na realidade toda a gente pressente que existe uma razão mais funda para o alarido e que está relacionada com a impunidade que vigora em Portugal, em todos os domínios, mas a que é preciso dar alguma resposta, mais tarde ou mais cedo.
É claro que nada disto interessa ao Governo, muito menos ao poder judicial, habituado a não decidir em questões incomodativas, que possam perturbar a paz dos anjos em que vegeta. Agora o que se estranha, ou talvez não, é o silêncio cúmplice da comunicação social da especialidade que prefere publicar banalidades, a noticiar as escutas telefónicas em que se combinam os resultados dos jogos, jogos que a mesma comunicação social gosta de relatar como se fossem a coisa mais séria do mundo!
Mas eu compreendo, os jornais desportivos em Portugal, não são jornais desportivos, são unidades de missão, ao serviço dos interesses, não tanto dos clubes do estado, mas deste sistema vicioso que no fim de contas os alimenta. Repare-se que tivemos que ler as novidades sobre os escândalos que abalaram definitivamente o futebol nacional, nos jornais generalistas, enquanto que os ‘desportivos’ abdicavam alegremente das receitas que tal furo jornalístico lhes proporcionaria! Não se espere pois deste lado qualquer contributo para a regeneração do futebol português.
O canal público de televisão também faz o seu trabalho de casa! Sem qualquer sensibilidade, vai continuando a branquear e ilibar arguidos, ou presumíveis arguidos, do processo ‘apito dourado’, através dos aparentemente inofensivos bonecos do ‘contra-informação’!
Mas a realidade não se pode escamotear eternamente, e é por isso que este atoleiro tende a secar desvendando então o que resta da podridão imaginada.
Equaciono assim os seguintes cenários:

1. Ou o processo ‘Apito dourado’ prossegue e incrimina de facto os ‘homens do norte’ envolvidos, reagindo estes através de um confronto de natureza regional, aproveitando inclusivamente a embalagem do ‘caso Mateus’.
2. Ou o ‘Apito dourado’ é arquivado, com o Governo a propor uma ‘amnistia’ geral e um ‘começar de novo’ para todos.

Penso que será por aqui que as coisas seguirão, e nesse sentido seria importante definir um caderno reivindicativo por parte dos clubes profissionais de média dimensão, aqueles que ainda têm adeptos próprios, para ser negociado na altura nas melhores condições.
Saudações azuis.

domingo, setembro 24, 2006

Belenenses 0 – Naval 0: Uma questão de espaço.

Havia espaço com fartura nas bancadas, a lembrar que o futebol em Portugal já conheceu melhores dias, mas no campo, dentro das quatro linhas, o problema era a falta de espaço para jogar! E quando assim é, tudo se multiplica:
O raciocínio, o discernimento, os reflexos, têm que ser muito mais rápidos; a falta de classe nota-se muito mais; as carências são mais gritantes.
Houve de tudo isto ontem no Restelo frente a uma equipa da Naval com muito pulmão, que disputava todos os lances no limite, que não deixava pensar, que sabia também trocar a bola, e esteve sempre à espreita de uma oportunidade para marcar.
Do nosso lado, do lado de Belém, lutámos muito, tentámos outras variantes, mas nunca conseguimos criar verdadeiro perigo. Mas o melhor é dar a palavra ao treinador Jorge Jesus que no fim do encontro, sintetizou:
‘Foi um jogo muito disputado, este campeonato vai ser como o anterior, ou seja, muito competitivo, com poucas diferenças nas equipas, a distinguirem-se umas das outras nos pormenores, e eu quero dizer que hoje saímos daqui com um ponto porque o Belenenses tem uma defesa muito forte’.
Está feito o retrato do jogo.
Uma última palavra para o árbitro, o que não é habitual nas minhas crónicas. Para manifestar alguma surpresa, mas ao mesmo tempo dizer bem! Precisamos de entender que nesta fase conturbada em que vive o nosso futebol, os árbitros, que estão à partida condenados à suspeição, parecem paradoxalmente mais livres e libertos! E acabam por ter melhores desempenhos, não obstante o alarido, mais fingido do que outra coisa, que vem obrigatoriamente das bancadas.
Este Paulo Pereira, deixou jogar, às vezes até perante alguma incredulidade dos intervenientes, cometeu os erros normais, mas nenhuma das equipas se pode queixar de interferência malévola no resultado.
É a minha opinião.
Saudações azuis.

sábado, setembro 23, 2006

Parabéns e para mais

Estou de partida para o Estádio do Restelo que faz hoje cinquenta anos de existência! Estávamos em 1956, num dia 23 de Setembro, trinta e sete anos depois da Fundação!
A esta distância, penso que é legítimo equacionar algumas perguntas:
Que esperanças animavam os homens daquele tempo?!
Que sonhos poderiam acalentar perante a bonita ‘Taça de Pedra’ que ali se erguia diante dos seus olhos, que inevitavelmente se alongavam até ao rio de todas as descobertas!
Que lembranças teriam da difícil empresa terminada! A mesma que transformou uma pedreira numa obra de tal envergadura! Quem se atreveu na altura a pensar nos tremendos custos que aquela mudança, das Salésias para o Restelo, iria acarretar!
E quem, de entre os presentes, ousou sequer imaginar o declínio, a divisão, a vergonha, que já ali todos presenciámos ou vivemos?!
Ainda bem que não imaginaram tal coisa, sinal de que a mentalidade era grande e esperançosa.
O Belenenses afinal resistiu, ainda existe, e merece por isso os parabéns! Mas não seremos os ‘contentinhos’ deste filme.
Falta cumprir a esperança daqueles que lançaram no Restelo, a primeira pedra.
Mas festa é festa, parabéns Belenenses.

terça-feira, setembro 19, 2006

Intervenção Administrativa, já!

Estou com o jornalista Miguel Sousa Tavares, que hoje, nas páginas do jornal ‘A Bola’, propõe a intervenção do Governo no futebol, para acabar de vez com o clima de suspeição que a impunidade sempre gera.
De facto, ainda agora começou o campeonato, e já se notam os sinais da desconfiança, a polémica a propósito de tudo e de nada, a enorme pressão sobre os árbitros, afinal, o elo mais fraco desta cadeia de cumplicidades em que inegávelmente está submergido o futebol português!
Agora já não vale a pena balbuciar ‘que toda a gente é inocente até prova em contrário’, porque já se sabe que neste país, a justiça é incapaz de julgar alguém, desde que esse alguém possa recorrer a um bom advogado!
No limite, existem ‘constitucionalistas’ que entendem que a nossa Constituição prevê a impunidade para a corrupção desportiva!!!
E esta, deve ser apenas a ponta do iceberg da outra!!!
Nestas condições, não sendo admissível que o Estado, como pessoa de bem, queira continuar a patrocinar ‘jogos de batota’, só vejo uma saída para a crise: uma intervenção administrativa para pôr as coisas no são.
Como?
Demissão compulsiva dos presidentes da Liga e da Federação, nomeando uma Comissão de Saneamento (básico) de modo a reverter este espectáculo desportivo aos parâmetros normais e regulares para esta actividade.
Consequências?
A FIFA, alegando justamente a irregularidade invocada pelo Governo, aproveitaria a oportunidade para suspender o futebol português das competições internacionais até que tudo estivesse sanado, o que bem vistas as coisas seria também a oportunidade para reformar de vez este futebolzinho a ‘três mais um’, completamente viciado e viciante, ou seja, seria uma ‘quarentena’ mesmo a calhar.
É natural que se ouvissem os berros dilacerantes dos clubes do estado, o choro pungente dos adeptos do futebol a fingir, as reacções acaloradas dos políticos da bola, mas o futebol português agradecia.
Quero lembrar que no tempo em que se valorizava o campeonato interno (o contrário do que agora acontece), os estádios enchiam-se de público, e público mais exigente, pela simples razão de que gostava de futebol e não apenas de ganhar a qualquer preço.
Saudações azuis.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Notícias de segunda

Abro com uma excepção: é notícia de primeira o Belém ter regressado de Coimbra com um resultado positivo. E depois de estar a perder, conseguir recuperar é sempre uma boa notícia.
Ouvi o ‘relato’, se posso chamar àquilo relato! Com um locutor, vítima das novas tecnologias de informação, a falar sobre tudo menos sobre o que se passava no relvado. Fiquei apenas ciente, para além dos golos, que Costinha equipava de azul-bébé com meia branca.
Bem, logo à noite vou ver se vejo os golos na TVI, pensei eu, depois de beber um café forte para aguentar a noitada. Não aguentei, desliguei a televisão ao fim da centésima repetição do golo que o Paços de Ferreira marcou em Alvalade!
Oh, meus amigos, metam esse programa no lixo, usem a co-incineração se for preciso, salvem o locutor, mas proíbam-no de falar em público, era um favor que faziam ao futebol. Digam-me lá uma coisa – se o lance irregular tivesse sido na outra baliza, teriam feito o mesmo alarido, como se de morte de gente se tratasse! Claro que não.
E querem provas? Já repararam que o campeonato prosseguiu e prosseguirá como se não tivesse acontecido nada! Os mesmos árbitros, os mesmos dirigentes, o mesmo público, todos em segredo de justiça, e só os ouvimos protestar quando o seu clube parece ser atingido por alguma perversão.
Sim, falei do público que gosta de ver jogos a fingir; sim, falei dos dirigentes que ficaram calados que nem ratos, enquanto se desenrolava o ‘caso Mateus’; sim, falei dos árbitros, incapazes de dar o grito do Ipiranga para ganharem a independência da Liga.
E há mais, mas não me apetece.
Tenho que acabar com notícias de primeira: Ruben Amorim, jogador da ‘cantera’ azul, disse que o resultado não era bom, mas apenas aceitável atendendo às incidências do próprio jogo. É este o discurso que quero ouvir sempre.
Saudações azuis.

quinta-feira, setembro 14, 2006

“Descubra as diferenças”

“Portugal, Itália e a crise do futebol: descubra as diferenças”

“O Diário de Notícias tem vindo a revelar um conjunto de elementos no âmbito das escutas telefónicas do chamado caso ‘Apito Dourado’. Desses factos emerge clara intenção de diversos agentes ligados ao mundo do futebol condicionarem resultados desportivos.
No passado mês de Maio o semanário italiano L’Expresso publicou transcrições de escutas telefónicas realizadas no âmbito do Calciocaos, que estava a ser investigado pela Procuradoria de Nápoles. Face à gravidade dos factos, o Governo italiano nomeou um Comissário especial, operando no âmbito das estruturas federativas, para averiguar a situação e tomar as medidas apropriadas. Em resultado, dois meses depois a Juventus viu-se apeada dos últimos títulos de futebol que havia conquistado e despromovida à divisão inferior. Outros clubes de renome sofreram sanções disciplinares e desportivas, assim como vários árbitros e inúmeros dirigentes.
Em Portugal, o chamado 'Apito Dourado’ continua a marinar pelos tribunais e terminará, presumivelmente, em nada. Asfixiado pelo garantismo do sistema judiciário e perdido nas malhas labirínticas do processo penal, o qual, pela mão de advogados ilustres, favorece a impunidade dos poderosos.
Todavia, o contraste mais gritante com o chamado Calciocaos, que tem grandes semelhanças com os factos revelados no caso ‘Apito Dourado’, reside na atitude do poder político: em Itália, o Governo quis prontamente restabelecer a dignidade desportiva do futebol (não obstante o sistema jurisdicional transalpino ter feito frente, brilhantemente, ao terrorismo na década de 70 e à corrupção nos anos de 1990); em Portugal, o Governo parece não se importunar perante factos de inquestionável gravidade, confiando pacientemente na capacidade do sistema jurisdicional para a ‘resolução’ do problema.

António Goucha Soares, Professor Universitário.
Publicado no DN de hoje, quinta-feira, 14 de Setembro de 2006.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Tarde de futebol

Comecei pelos juniores, uma agradável surpresa, fio de jogo, três ou quatro jovens a prometer muito e umas ‘bocas’ bem-humoradas: - Oh jsm, aquele miúdo é jeitoso, não deve ficar cá muito tempo...
Fica sim senhor, que isto agora vai mudar. A ‘cantera’ tem que ser a base disto tudo, vamos investir mais, poupar noutros sítios, por exemplo, no ‘ecletismo’ pateta, e não pode haver mais dúvidas sobre o caminho a seguir: - ao nível dos juniores, temos que andar a par com os melhores, custe o que custar.
Acabámos por ganhar bem ao Nacional da Madeira por 3-1, que não se livrou do alto sentido crítico de um adepto azul: - ‘Estes gajos não jogam uma beata’!
Rumei então ao campo principal, havia muita gente e havia muita expectativa, alguma excitação, e um claro excesso de decibéis!
Faço aqui um encarecido apelo à Direcção do Belenenses: - não insistam neste disparate (eu diria histerismo) que afasta mais gente do que pensam. E vamos lá ver uma coisa: se esta ‘animação’ se destina a ensurdecer os adeptos, evitando que troquem impressões ao intervalo, e antes do jogo, tudo bem; mas se o objectivo é apenas o de fazer sofrer os velhos associados do Clube, então não vale a pena, porque nós já sofremos o suficiente durante os jogos!
De qualquer maneira, repito, baixem o som e o tom. Antigamente, quando o Restelo tinha muito mais gente, quem animava os adeptos era a equipa através do futebol praticado! E vice-versa! E também havia música.
Viremos então a página para dizer bem de alguma coisa: era a minha primeira vez esta época, ainda não tinha visto jogar o Belenenses de Jesus e tenho que confessar – gostei! Uma equipa à imagem do treinador, raçuda, a pressionar mais que o habitual, sem medo de ter a bola, a projectar-se para a frente, com um meio campo onde existe o que é preciso – bons pés.
Entrámos naturalmente nervosos, um ou outro calafrio defensivo, mas fomos crescendo com o decorrer do tempo e acabámos senhores da situação. Destaques?! O colectivo sobrepôs-se, o que é positivo, mas não posso deixar de referir alguns jogadores – Amorim, a jogar onde for preciso, esteve em grande, tal como José Pedro que foi decisivo nos golos – marcou um e também marcou o canto que permitiu ao pequeno Roma fechar de cabeça a contagem. Este Roma, aliás, é muito bom jogador e estou certo que fará sucesso no campeonato! Alvim também me deixou boa impressão, discreto, conseguiu parar Varela, o mais perigoso entre os sadinos, e ainda meteu umas bolas à frente com a propósito. Boa estreia! Nivaldo, com alguns deslizes comprometedores, revelou contudo, reflexos e muita genica. Está naturalmente a adaptar-se ao nosso futebol. Os restantes cumpriram.
Atenção esta vitória foi extremamente importante, como foi importante que tenha sido este o nosso primeiro jogo. Já pensaram que se temos ido à Luz, nos arriscávamos a um desaire, com as consequências psicológicas daí resultantes! Assim, foi ouro sobre azul.
Não termino esta croniqueta sem salientar a excelente participação de Jorge Jesus no programa desportivo da noite, na TVI, onde o nosso treinador, sem papas na língua, descobriu a careca aos donos da bola, relativamente à ‘redução de clubes’! Com efeito, os verdadeiros objectivos que nortearam tal redução têm a ver com os grandes interesses financeiros instalados no futebol português, que estão instalados na órbita dos chamados três grandes, e que somados aos interesses da selecção do Madaíl e da propaganda do Governo, produziram este filme da redução! Redução que prejudica fortemente os clubes pequenos e o futebol português no seu conjunto. Coisa de somenos, aliás!
Não para Jorge Jesus, felizmente, que disse em meia dúzia de palavras aquilo que temos vindo a dizer no Belém Integral com muitas palavras.
Parabéns Jorge Jesus! Um homem do futebol!
Saudações azuis.

Post-scriptum: O programa da TVI para noctívagos chamado Domingo Desportivo, ou coisa que o valha, ‘passou’ o resumo do Belenenses-Vitória de Setúbal no tempo record de 10 segundos! Bravo!

domingo, setembro 10, 2006

Recados para dentro

A bola vai recomeçar, para trás fica um longo processo que conseguimos levar a bom termo, e no entanto, desde ontem que ando a remoer alguma insatisfação que não resisto a partilhar.
O que se passou foi o seguinte – Cabral Ferreira estava a ser entrevistado por um canal de televisão quando foi confrontado com uma pergunta incómoda relativa à participação dos clubes na escolha dos árbitros para os jogos, depreendo que se trata das finais, da Taça de Portugal! A pergunta tinha como base uma entrevista concedida nesse mesmo dia ao jornal ‘A Bola’ pelo antigo presidente do Belenenses, Sequeira Nunes, onde este confirmava que tal prática era comum!
Ora bem, não vou pôr nada disto em causa e como não li a dita entrevista posso naturalmente estar a fazer juízos temerários, mas aquilo incomodou-me porque não entendi o sentido nem a oportunidade de tal entrevista nesta altura do campeonato. Deduzo que os jornalistas quisessem ouvir uma reacção de um dirigente azul à época (2003/2004) e naturalmente que o interesse da entrevista se resumia a isso, ou seja saber se o Belenenses também terá participado nesse leilão do árbitro!
Ainda não sei ao certo se participou ou não e daí a minha surpresa que face ao escândalo público dos jogos combinados, apareça um ex-dirigente do Belenenses a colaborar no branqueamento desta vergonhosa situação, sabendo-se ainda por cima que neste filme fazemos sempre o papel da vítima.
Repito, posso estar enganado, penitenciar-me-ei se for caso disso, mas aconselho vivamente sobriedade e contenção numa matéria em que temos todo o interesse que chegue às últimas consequências, que é a denúncia da batota institucionalizada, para deixarmos de ser os bombos da festa...prazenteiros e colaborantes!
Em princípio, os beneficiados não perdem, e nós temos passado a vida a perder! Era o que mais faltava que passássemos por aquilo que não podemos ser – batoteiros.
E volto à entrevista de Cabral Ferreira, que gostei de ouvir! Esteve bem, como tem estado bem em todo este processo. Merece por isso ter uma retaguarda em condições.
Saudações azuis.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Próximos episódios

Não perca de facto os próximos episódios que prometem revelar finalmente toda a verdade que está por detrás das movimentações da Liga de Clubes.
Ora bem, recordemos que o Presidente da respectiva comissão executiva terá jurado, segundo dizem, que o Belenenses só ficaria na primeira Liga se ele, Major, morresse! Talvez não seja preciso ir tão longe, mas a frase diz tudo sobre o ambiente em que se desenrola este ‘caso Mateus’, adicionado ao ‘apito dourado’, à zanga das comadres, às ligações perigosas entre a política e o futebol, e entre o futebol e o muito dinheiro envolvido. Em pano de fundo, portanto, a luta terrível pelo poder entre os chamados ‘donos da bola’.
Mas regressemos à realidade: hoje, sexta-feira, haverá decisões a partir do TAFL que podem despoletar consequências pouco previsíveis. Vou tentar usar a lógica, instrumento da razão que, como se sabe, tem pouca utilidade em Portugal.
Ainda assim, começo pela declaração do Professor Fausto Quadros, catedrático em Direito Administrativo e que, segundo li no DN da passada 4ª feira, terá sido o autor do parecer jurídico que sustentou a decisão da FPF em invocar o interesse público para desbloquear as competições profissionais. Diz Fausto Quadros que “o TAF nunca concedeu nenhuma providência cautelar requerida pelo Gil Vicente. No pedido principal, o tribunal ordenou a citação da Liga de Clubes e do Belenenses”. E refere ainda que “simultaneamente, o Gil Vicente pediu a suspensão provisória e urgente da eficácia do acórdão do CJ da Federação, o que o Tribunal expressamente indeferiu”. “Acórdão, esse, que determinou a manutenção do Belenenses e descida do Gil Vicente à Liga de Honra”. Para Fausto Quadros, “o que o tribunal fez, foi, com base no artigo 128º, nº1, do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, decidir que a simples citação dos interessados impedia a execução do acórdão do CJ, a não ser que, por resolução fundamentada, fosse demonstrado que a não execução imediata do acórdão do CJ provocava graves prejuízos para o interesse público”. Foi esta resolução fundamentada que a FPF apresentou entretanto no tribunal.
Dito isto, percebe-se bem toda a desinformação que tem sido veiculada por parte do Gil Vicente, assim como se percebe que o Major tenha tentado subverter a situação, marcando à pressa o tal jogo entre o Benfica e o Gil Vicente, sem ter para isso qualquer apoio jurídico nas decisões do TAF!
Aliás, toda a actuação do Major Valentim Loureiro indicia e permite pensar que não está a ser imparcial neste processo. A sua última rábula, referindo a inutilidade de entregar, em consonância com a FPF, uma declaração de interesse público, é reveladora da clivagem entre entidades que deveriam estar unidas neste processo, pois a ambas cabe zelar pelo cumprimento do mesmo normativo.
As expectativas reduzem-se pois a saber se o TAFL exigirá mais uma formalidade, a tal declaração conjunta de interesse público, envolvendo FPF e LPFP, ou se afastará esse incidente formal.
É nisto que joga o Gil Vicente e o Cruz Vilaça, questões formais, dilações e mais dilações, porque a questão de fundo – a batota – essa permanece e vai ser difícil dar-lhe a volta.
O máximo que poderiam conseguir, no caso do Juiz do TAFL achar ser necessária uma ‘declaração conjunta de interesse público’, seria, de acordo com o exposto acima, bloquear de novo o campeonato.
Mas não acredito neste cenário.
Saudações azuis.

quinta-feira, setembro 07, 2006

O Livro Cinzento

Estou com o ex-ministro Arnaut, também gostaria de ter sido convidado pela Europa a elaborar um Livro Branco do futebol, no sentido de averiguar sobre os riscos que ameaçam a sua verdade desportiva.
Quando o ouvi desbobinar as patifarias que o cercam – empresas de apostas sem pátria que patrocinam campeonatos, sociedades anónimas que são accionistas de vários clubes, tráfico de influências, jogos combinados, arbitragens duvidosas, empresários suspeitos, enfim todo um mundo de corrupção espreitando o momento para se lançar sobre a presa – juro que quando o ouvi, tudo aquilo me soou familiar, não muito longe desta santa terrinha onde habito! E tive vontade de interromper o jovem discurso, tão destemido defensor da verdade do futebol, para dizer simplesmente isto:
Caro deputado, escusava de se ter dado ao transtorno da Europa, das viagens cansativas, das despesas inúteis, pois teria Vossa Excelência mesmo ao pé de casa, os problemas e os desvios que procura lá fora! Eu próprio me comprometo a fornecer-lhe alguns dados e pistas, cabendo então a Vossa Senhoria fazer o necessário cruzamento da informação entretanto recebida.
Depois desta revelação estou certo que o deputado Arnaut concordaria em analisar o seguinte:
- Portugal, país do extremo ocidental da Europa, tem três clubes apurados para a ‘Liga milionária’, que correm o risco de ser impedidos de participar se a FIFA levar por diante a ameaça de suspender a FPF. Foram entretanto inventariados e divulgados os possíveis prejuízos que atingem números astronómicos para a nossa realidade!
- Portugal, país do extremo ocidental da Europa, tem três clubes que se eternizam nos lugares de acesso à Liga milionária e que contam absolutamente com essas receitas (extraordinárias!) para amenizarem os monstruosos défices acumulados.
Para que conste, há mais de sessenta anos que apenas o Boavista e por uma vez, conseguiu intrometer-se nos lugares de acesso à Liga dos campeões! Também para que conste informo que no ano em que o Boavista foi campeão, eram presidentes da Liga e da Comissão de Arbitragem, dois ex-dirigentes do Boavista, mais tarde arguidos no processo ‘apito dourado’!
Em apoio do que acabo de informar, seguem mais alguns dados esclarecedores:
- A empresa que tem a concessão (!) das transmissões televisivas é, também ela, accionista de quase todas as SAD dos clubes que participam na Liga; a distribuição das receitas televisivas pelos participantes, a que resulta deste estado de coisas, é simplesmente escandalosa e parte do curioso princípio de que poderia haver competição sem adversários!!!
- O Estado, através de empresas públicas ou semi-publicas, faz negócios com os três clubes acima referenciados desvirtuando assim a competição desportiva;
- O Canal público de televisão também contribui, em termos de direito de antena, para cavar o fosso que existe entre clubes grandes e pequenos; como curiosidade e a título de mero exemplo, constatamos que os telejornais se sentem na obrigação de dar notícias sobre os três clubes já referenciados, mesmo quando não exista qualquer notícia relevante para dar!
Outros dados poderiam ser coligidos sem esforço, como a longevidade dos dirigentes, quer na Liga quer na Federação, mas pensamos que a situação descrita, seja qual for o ângulo por que se analise, sejam quais forem os factores apreciados, constitui um caso único na chamada Europa do futebol, record absoluto com direito a Guiness...mas não pode deixar de levantar sérias preocupações sobre a apregoada verdade desportiva.
À atenção portanto do deputado Arnaut.
Saudações desportivas.

quarta-feira, setembro 06, 2006

A verdade desportiva

Diz o DN de hoje, o seguinte: “Loureiros escolhiam árbitros para o Boavista” é o título da notícia, que tem como subtítulo – “As nomeações dos árbitros na Liga de Futebol Profissional eram condicionadas pelos pedidos de João e Valentim. O DN revela novas escutas telefónicas em que o major chegou a dizer a um auxiliar que lhe ‘puxava as orelhas’ e o filho, presidente do Boavista, fazia chegar mensagens aos árbitros sobre promoções na carreira como contrapartida”.

(...) “Modus operandi”:
“Segundo o procurador Carlos Teixeira, o modo de actuação de Valentim e de João Loureiro passa, além das sugestões de nomes, pelo conhecimento antecipado dos nomes dos árbitros escolhidos. Tal permitia-lhes encetar os contactos com antecedência. Exemplos disto são as escutas interceptadas antes do jogo Belenenses-Boavista, arbitrado por Bruno Paixão. Numa conversa interceptada entre João Loureiro e Ezequiel Feijão, um ex-árbitro e observador da Liga, o presidente do Boavista pede que a equipa de arbitragem seja abordada, dando as instruções: “Ele (Bruno Paixão) chegou onde pediu (...), se quer umas viagenzinhas para o ano e tal...temos... de atalhar caminho, pá (...). Tu pediste foi-te concedido”.
Também antes do jogo Boavista-Beira Mar, João Loureiro contactou o observador Pinto Correia para este dar um ‘toque’ ao árbitro...”, etc. etc. etc.!!!

O resto, podem ler na edição papel do DN de hoje, quarta-feira, dia 6 de Setembro de 2006.
Apenas uma nota pessoal: Já repararam que as televisões só se preocuparam em divulgar eventuais prejuízos que o Benfica pudesse ter sofrido por causa de arbitragens tendenciosas! Já repararam que o Benfica fazia parte da actual Direcção da Liga que agora critica.
É só para pensarem.
Saudações azuis.

Post-scriptum: As escutas acima mencionadas referem-se à época de 2003/2004.

terça-feira, setembro 05, 2006

Como se queria demonstrar!

O programa ‘prós e contras’ que a RTP exibiu ontem à noite, foi um fiasco, mas serviu às mil maravilhas para demonstrar tudo aquilo que vimos defendendo a propósito do ‘caso Mateus’. Senão vejamos:
- Ficou amplamente demonstrado que não é possível dirigir um debate sobre desporto, neste caso sobre o futebol português, sem estar por dentro do fenómeno desportivo, não é tarefa para pára-quedistas. E por aqui poderíamos perceber, sem ir mais longe, como será difícil julgar e mesmo advogar sobre este ‘universo específico’, a quem, circunstancialmente, apenas lhe empreste o corpo e não a alma. A razão da blindagem da jurisdição desportiva é também esta.
Simples e barato.
Fátima Campos Ferreira, tão à vontade noutros temas, uma conceituada apresentadora, esticou-se desta vez ao comprido, e pese a minha conhecida boa vontade a respeito da senhora, temos que convir que a sua prestação quase roçou o ridículo.
A falta de espírito desportivo revelou-se desde logo: uma vénia quase descomposta, quando apresentou a ‘sumidade’ que advoga pelo Gil Vicente, um seco cumprimento para o jovem advogado do Belenenses! E prosseguiu sem isenção, ao conceder quinze minutos ao Vilaça e apenas três minutos a Nelson Soares!
No resto do debate, para além de agitar o fax da FIFA que diz aquilo que todos sabemos, que a Federação não controla a Liga, ou seja, que Madaíl não tem mão em Valentim, como estatutariamente devia acontecer, para além disso, dizia, foi sempre incapaz de perceber qual era o cerne da questão, no fundo, perceber aquilo que tinha interesse público, a saber:
Houve ou não houve batota por parte do Gil Vicente? O acto de tentar inscrever Mateus na Liga profissional, foi ou não uma ‘habilidade’ do Gil Vicente para não cumprir os regulamentos que os outros concorrentes tiveram que cumprir, vidé o Paços de Ferreira, que também tentou contratar o jogador, mas foi impedido de o fazer pela Liga e pela Federação?! Esta é que era a questão das questões, que Fátima resolveu branquear enquanto se entretinha a trocar juras de amor com o Major Valentim!
E daqui passa-se imediatamente para a outra inverdade que Cruz Vilaça tentou manipular – acto meramente administrativo ou estritamente desportivo?! Vilaça, diz como Marcelo já andou a dizer, que todos os ‘sábios’ entretanto consultados afirmaram tratar-se de um acto meramente administrativo! Excepto, como muito bem esclareceu o advogado do Belenenses, todos aqueles juízes, quer do Tribunal Administrativo de Braga, quer do Tribunal Administrativo do Porto, quer da Comissão Disciplinar da Liga, quer do Conselho de Justiça da Federação, e sempre por unanimidade, que decidiram que era matéria estritamente desportiva! Não existe até à data nenhuma decisão sobre este assunto que declare tratar-se de um acto administrativo. Esta a verdade que dói a muita a gente e vai decerto levar Cruz Vilaça a procurar ressarcir-se por outras vias, talvez monetárias, explorando as clivagens visíveis entre Liga e Federação, dois organismos que estiveram mal neste processo, ambas a necessitar de um terramoto para se reerguerem do caos onde subsistem.
Termino com a defesa da honra: ao ser-lhe perguntado porque razão o Belenenses só accionou os seus direitos após a descida de divisão, Nelson Soares, advogado do Belenenses respondeu bem, disse que o Belenenses defendeu os seus interesses quando achou oportuno.
Sem qualquer crítica, entendo que esta pergunta insidiosa merecia uma resposta mais contundente, e não faltarão oportunidades para o fazer: o Belenenses reagiu ao incumprimento de um dos concorrentes porque é natural interessado, mas não teria tido necessidade de o fazer se quer a Liga quer a Federação, os principais interessados no cumprimento das regras, tivessem accionado o infractor na altura própria. O Gil Vicente, num verdadeiro estado de direito, não teria chegado ao fim do campeonato, teria sido desclassificado.
Saudações azuis.

domingo, setembro 03, 2006

A liga dos batoteiros

É batota utilizar os tribunais comuns para tornear um regulamento das competições desportivas, e é batota porque já se sabia que a mesma instância, posta na justiça desportiva seria chumbada, como acabou por ser.
É também batota porque, quer se queira, quer não, é um expediente que desfaz a igualdade, ao menos formal, que todos os competidores aceitaram e confiam que exista na linha de partida. Esta é, aliás, uma das razões que levou a organização da competição a propor e os competidores a aceitarem a blindagem da justiça desportiva.
É, finalmente, dupla batota, ainda por cima mascarada de ‘esperteza saloia’, porque parte do princípio que os outros concorrentes irão respeitar as normas que o putativo infractor não respeita.
Dito isto, apenas se compreende que ainda haja defensores da batota, por uma de duas razões: ou são mesmo batoteiros, ou então, não têm aquilo a que podemos chamar, ‘espírito desportivo’, ou ‘espírito competitivo’, e por isso a sua noção de batota não existe ou se existe é substancialmente diferente daquela que é partilhada pelos desportistas e está na base dos regulamentos das competições desportivas.
Não estou a ironizar e isto pode bem acontecer porque de súbito o mundo do futebol foi invadido por toda uma ‘fauna’ que não tem, nem percebe sequer o que é isso do – ‘espírito desportivo’. A comprovar o que afirmo, o facto de pessoas reconhecidamente inteligentes, mesmo juristas consagrados, proferirem sobre este ‘caso Mateus’ opiniões e sentenças como se estivessem a falar de outras actividades ou negócios.
Mais, nem mesmo perante o autêntico caos instalado por causa de um simples recurso para os tribunais comuns, uma prova irrefutável para qualquer pessoa normal de que não será este o melhor caminho para resolver os problemas relacionados com as competições desportivas, nem mesmo assim, dizia eu, essa gente se comove e muda de discurso! Antes envereda por soluções do tipo ‘quixotesco’, completamente desadequadas, fora da realidade, como se estivessem a defender a honra de donzelas ofendidas! Surgem os inevitáveis chavões: a soberania posta em causa, a invocação constitucional, a democracia e o estado de direito, a intocável justiça portuguesa, e num último rasgo, com a Índia de novo à vista – se dobrámos o Bojador, dobraremos a FIFA!
Nesta altura costuma tocar o despertador e esperemos que acordem.
Mas antes de acordarem, arrastam consigo alguns incautos que na sua boa fé acreditam que está posta em causa a face honrada do desporto, quando acontece precisamente o contrário. Se fosse possível revelá-los à luz crua da realidade, ficaríamos a conhecer a sua natureza anti-competitiva, não seriam capazes de organizar qualquer competição viável, ao mesmo tempo que podemos adivinhar que seriam maus competidores, prontos a trair os regulamentos da prova, quando isso lhes conviesse.
Não percebem sequer que a justiça desportiva teria sempre que ser entregue a um único julgado, chame-se ele, Conselho de Justiça ou TAFL, e que esse mesmo tribunal teria de ter permanentemente em conta a especificidade do fenómeno desportivo.
Assim chegamos facilmente e com toda a naturalidade à verdadeira ‘ratio’ que leva o Estado a delegar na justiça desportiva, o interesse público que consiste em que não haja batota, ou seja, a de colocar todos os competidores face a um mesmo regulamento e a um mesmo juízo, em caso de conflito de interesses.
Insistir, por fim, que neste ‘caso Mateus’ estamos em presença de um acto meramente administrativo, ou seja, considerar que a inscrição de um jogador numa competição desportiva, onde estava proibido de se inscrever pelos regulamentos dessa mesma competição, é um acto meramente administrativo, ou dito de outra forma, que não é matéria estritamente desportiva, são manigâncias de batoteiros, sabendo-se como se sabe que outros concorrentes tentaram fazer o mesmo, mas que recuaram perante a força dos regulamentos desportivos.
Termino como comecei: a batota de que falo tem curso legal nesta terra, nem se limita aos aspectos formais que referi, é mais profunda, mas é também, felizmente, indissociável da outra face da mesma moeda onde se inscreve a nobreza do ‘espírito desportivo’.

sexta-feira, setembro 01, 2006

À volta do zero a zero

O que fazem uma rolha, um bazófias e um convencido à volta de uma mesa redonda?! Que compromisso fundaram?! Que comunicados irão engendrar?!
Escrevo à saída de um túnel, ou seja, de uma reunião entre o Secretário de Estado do Desporto, o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol e o Presidente da Liga de Clubes de Futebol Profissional, os dois últimos rodeados por um cacho de jornalistas sedentos de novidades.
Madaíl foi o primeiro a falar e no habitual discurso do não para dizer sim, e do sim para dizer não, conseguimos perceber que as coisas estavam bem encaminhadas, foi tudo um mal entendido, em que afinal todos tinham razão, ele, o major, a juíza, os juízes, até a FIFA, e vamos por certo remediar este problema, estejam descansados que o futebol português está bem entregue! Só temos que agradecer ao senhor Secretário de Fafe que em boa hora resolveu marcar esta reunião.
Não muito convencidos, os jornalistas atacaram então o Major Valentim que, com maior ou menor dificuldade, foi repelindo acusações, naturalmente injustas para quem gosta de estar sempre do lado da lei: juras e mais juras de que obedeceu a toda a gente – ao Conselho de Justiça, à juíza, de novo ao Conselho de Justiça, outra vez à juíza, e assim sucessivamente!
Não foi ele que suspendeu os jogos, foi o Conselho de Justiça!
Os jornalistas quiseram então saber o que aconteceria se os jogos não têm sido suspensos, se nessa circunstância, a Liga avançaria com o jogo entre o Benfica e o Gil Vicente?! O Major inflamou-se e não respondeu. Outro jornalista inexistente teria questionado sobre a oportunidade do requerimento do Leixões, uma vez que Valentim entendeu que o Gil Vicente se mantinha na primeira Liga por vontade da juíza?! E porque terá o Major feito seguir esse requerimento, claramente intempestivo, para o órgão de recurso da Federação, sem ter sido analisado pela Comissão Disciplinar da Liga?!
O que responderia o Major se alguém lhe tem feito estas perguntas?
Mas isso agora já não interessa.
Trocando por miúdos e para quem não esteja, ainda, familiarizado com os personagens, adianto um prognóstico:
Vêm aí dois comunicados suficientemente cordatos, um da Federação e outro da Liga, a branquearem a situação e a exortarem o Gil Vicente a respeitar os regulamentos e a ocupar o seu lugar na Liga de Honra. Deve por conseguinte retirar de imediato a providência cautelar que, mal aconselhado, mas cheio de razão, resolveu interpor no TAFL.
Os comunicados devem terminar dando a ideia de que só fazemos isto porque a FIFA nos obriga a tal e não porque estejamos minimamente de acordo com tais regulamentos e com tal prepotência!
Saudações azuis.