Uma das coisas que mais me
espantaram nestes últimos tempos foi a grande afición que se estabeleceu em
Portugal a favor do Leicester! Toda a gente queria que o Leicester fosse
campeão em Inglaterra! Para o comum dos portugueses isso seria mais do que uma
vitória, era David a vencer de novo Golias!
Freud se ainda estivesse entre
nós retiraria daqui importantes conclusões para os seus estudos psiquiátricos. O
quadro clínico parece claro: - os portugueses, que na sua esmagadora maioria são adeptos dos grandes (Benfica, Sporting e Porto), não sobrando adeptos para os
outros clubes, aproveitaram a brilhante carreira do Leicester para exorcizar os
seus fantasmas! Transferem assim para Inglaterra aquilo que gostariam que acontecesse
cá! Mas a doença é mais grave: - queriam que acontecesse cá apesar deles
próprios tudo fazerem para que nunca aconteça!
Desde logo porque preferem o
conforto espiritual de uma vitória mais que certa ao fim-de-semana. E depois
porque não acreditam que um clube pequeno possa ser campeão em Portugal. Porque
é que não acreditam?! Aí voltamos ao Freud. É um círculo vicioso.
Mas não nos iludamos. Em Inglaterra
o que aconteceu com o Leicester não foi nenhum milagre. Um clube, seja de que
tamanho for, desde que consiga reunir um conjunto de competências desportivas
superiores à concorrência, pode ser campeão. Basta verificar o histórico dos
campeões ingleses. Estão lá emblemas que hoje militam em divisões inferiores mas
que em qualquer altura podem reaparecer. É claro que é mais fácil que um
Manchester ou um Chelsea reúnam mais vezes as tais competências. Há uma certeza
e daí os estádios estarem sempre cheios: - as coisas decidem-se no campo, sem interferências
estranhas.
Tem tudo a ver com a educação,
com o facto de os ingleses não gostarem de ganhar de qualquer maneira, não
gostarem de batota, tem a ver com a independência dos dirigentes federativos em
relação ao poder político, em relação aos clubes, dos árbitros em relação a
tudo o que os rodeia, dos jornalistas em relação ao poder económico, e tem a
ver com uma distribuição equitativa dos dinheiros do futebol.
Em suma, tem a ver com tudo
aquilo que nós não temos, nem queremos ter.
Saudações azuis
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