quarta-feira, abril 11, 2007

Vício, batota e futebol

Nos outros países europeus, naqueles em que o futebol é jogado sob o escrutínio cerrado de estádios cheios, onde os adeptos da equipa da casa estão sempre em grande maioria, nos mesmos países em que o espectador pagante, sócio ou não sócio, é uma componente fundamental do espectáculo, inclusive em termos de receitas, aí, nesses países, é possível afirmar com alguma segurança que o futebol não está ainda completamente viciado, nem ao serviço de interesses totalmente estranhos ao que se passa no plano meramente desportivo. E quando acontece qualquer desvio, logo surgem consequências gravosas para os infractores.
Em Portugal não podemos garantir o mesmo.
Em Portugal e em países similares, onde os adeptos pertencem quase exclusivamente a três clubes, (incluindo jornalistas, árbitros, dirigentes, políticos, magistrados e banqueiros), com estádios vazios, excepto quando lá jogam os três do costume, e com as receitas do futebol a serem geradas fora do circuito normal da bilheteira, aqui, a suspeição agiganta-se todos os dias e ganha foros de caso de polícia!
E não é isso que entretém e estremece permanentemente todo o edifício do futebol luso?!
Claro que é…mas ‘no pasa nada’, como dizem nuestros hermanos!
E não acontece nada porque neste universo tridimensional as coisas têm estado relativamente equilibradas, e salvo a rivalidade norte/ sul, só alguma zanga momentânea de comadres, deixa vir ao de cima algumas…meias verdades! Mas para além disso, dizíamos, está tudo de acordo, estão todos no mesmo barco! E sabem disso.
Ultimamente contudo, e fruto do efeito redutor que a globalização vem impondo, o bolo habitual começa a ser curto para as ambições megalómanas dos três clubes do Estado. Daí algum aperto e a perspectiva de alguma imolação a norte para manter a capital em todas as frentes.
Volto ao princípio, o futebol movimenta muito dinheiro e muitos interesses, dinheiro e interesses que estão fora do futebol jogado nas quatro linhas, e por isso o dinheiro e os interesses terão que ser recompensados, também fora das quatro linhas! Não são os jogadores nem os clubes que recebem a parte de leão, mas sim quem investe por fora, em dinheiro ou influência. E porque investe, e sabe que investe numa máquina falida, o retorno, qualquer retorno, vem sempre envolvido em suspeita.
As contrapartidas surgem portanto noutras vertentes – desde a alteração de PDMs, construção civil, lavagens de dinheiro, eleições que se ganham ou se perdem, lugares políticos que se abicham, num rol interminável de ligações mais que perigosas!!!
É este o nosso futebol, o nosso vício, a nossa batota.

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