domingo, setembro 08, 2019

Soccerex para inglês ver!


Fernando Gomes actual presidente da Federação Portuguesa de Futebol está cheio de medalhas! Laureado com o campeonato da Europa de selecções, e não só, sempre na linha da frente da novidade e das altas tecnologias, faz espécie que tanta modernidade e progresso não cheguem ao futebol português! Falo do nosso campeonato, e falo de muitas outras coisas onde permanecemos orgulhosamente sós! Senão vejamos:

Soubemos agora pela boca de Javier Tebas, presidente da Federação espanhola, que a Federação Gomes foi a grande entusiasta na implementação da Super Liga Europeia, um campeonato de elite apenas reservado aos grandes clubes da Europa! A dita proposta foi naturalmente chumbada com os votos contra de todas as Ligas europeias (incluindo a Liga portuguesa) e com dois argumentos decisivos: - seria a morte anunciada das pequenas ligas e dos respectivos campeonatos nacionais, e ao mesmo tempo aumentaria o fosso entre clubes grandes e pequenos. Ora bem, a posição assumida pela nossa Federação é, no mínimo, incompreensível! Num país onde subsiste uma das Ligas mais frágeis e artificiais da Europa e onde o fosso entre clubes grandes e pequenos é para além de abissal, eterno, não se percebe que interesses defende a nossa federação! Ou que tipo de campeonato nacional advoga?! Será apenas passaporte para chegar aos milhões da UEFA?!

É que a partir daqui começamos a compreender outras coisas. Desde logo o facto de sermos o único país na Europa que ainda não tem os direitos televisivos centralizados numa única entidade! Entidade que os negociaria em bloco, distribuindo a respectiva receita de acordo com regras claras e equitativas. Uma medida que tem sido implementada com sucesso em toda a parte, e onde todos ficaram a ganhar! É claro que, como explicou Javier Tebas, e face aos interesses instalados, houve países onde os respectivos governos tiveram que intervir. E deu o exemplo de Espanha e Itália. Mas os governos intervieram e ponto final.
Portanto e mais uma vez a pergunta é: - mas afinal o que é que se passa com Portugal?! Que resistências invencíveis impedem a Liga, a Federação e a tutela de fazer aquilo que a equidade, a competitividade e uma verdadeira indústria do futebol exigem?!
Ou vamos continuar a fugir ao assunto vendendo a (falsa) ideia que os clubes são livres para decidir o que quiserem! Um sofisma porque ninguém é livre numa sociedade (neste caso, numa competição) de senhores e de escravos. Mesmo que os escravos gostem de ser escravos.


Um outro vício nacional são as 'caixas de esmolas'! Peditórios que a federação vai inventando para acudir às aflições dos clubes grandes. Ponto prévio: - a caixinha de que vos vou falar agora não é da inteira responsabilidade deste Gomes, vem de trás, mas continua a ser da responsabilidade da Federação. Refiro-me ao estádio nacional, preterido na altura da organização do europeu. Estádio nacional que é a casa natural da selecção quando joga na condição de visitada. Então agora o que é que acontece?! Para além do absurdo de termos um estádio nacional a degradar-se, a Federação e os contribuintes portugueses, de cada vez que a selecção joga em casa, têm que pagar o aluguer do estádio da Luz, do Dragão, ou de Alvalade! Isto fez-se de propósito ou foi só incompetência?!

Eu inclino-me para que foi de propósito. E confirmo esta minha inclinação na recente proposta de um dirigente federativo alvitrando que em cada fim de semana haja um jogo da Liga NOS transmitido em canal aberto. Estamos a falar de quê?! Do Tondela-Aves?! Ou é mais um subterfúgio para dar mais uns tostões aos três clubes do estado?!

E termino com um último e decisivo exemplo da desvalorização do nosso campeonato nacional. Pois por muito que vos custe aceitar, e ao contrário do que nos querem fazer crer, a actual selecção nacional é a prova evidente dessa mesma desvalorização. Não está em causa o seu valor, que é indiscutível, mas hoje em dia é práticamente uma selecção de emigrantes! E já não são apenas emigrantes de luxo a jogarem nos grandes clubes europeus. Muitos dos seleccionados contra a Sérvia alinham em clubes menores, seja em Inglaterra, seja na Grécia ou na Turquia. E é por aqui que devemos aferir das dificuldades dos clubes portugueses face ao mercado. Clubes falidos, sem qualquer capacidade de retenção, obrigados a vender tudo o que formam! E estamos a falar de jogadores cada vez mais jovens que saem para outros campeonatos em busca de melhores condições. 

Como diz o povo, hoje vendem-se os anéis, amanhã vamos vender os dedos! Isto enquanto a Federação continua a enriquecer! A fazer lembrar um capitalismo de estado que julgávamos extinto na Europa após a queda do muro de Berlim! É este o 'progresso' que queremos para o nosso futebol?!


Saudações azuis

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