quinta-feira, outubro 11, 2018

Presidentes, palmadinhas nas costas e greves!


Não sei o que se passou na 'reunião dos presidentes', nem preciso de saber, basta-me ouvir a declaração final, desta vez a cargo do presidente do Marítimo.
Tal como previa as reivindicações apresentadas nada têm a ver com o essencial, o básico que assinalei no postal anterior. Portanto o Benfica vai continuar a produzir as transmissões televisivas quando joga no estádio da Luz, e o VAR formará o seu juízo com as imagens produzidas pelos encarnados. A aberração vai manter-se e o grau de suspeição também. Nada que incomode os presidentes dos clubes, muito menos os presidentes da Liga e da Federação. Tutela idem. Está tudo preocupado com a violência no desporto, só que a violência nasce e alimenta-se de alguma coisa. Normalmente é da suspeição e da batota.

Sobre a centralização dos direitos televisivos nem uma palavra. Sinal de que está tudo contente, os grandes com a carne, os pequenos com os ossos. A justificação esfarrapada de que há contratos a cumprir (leia-se recebimentos antecipados) é uma espécie de cheque perpétuo, uma desculpa sem fim à vista. E mais uma vez o silêncio da parte dos organismos que mandam no futebol. O único comentário ao caderno reivindicativo veio do presidente da Liga, avisando o governo (e o país) que a indústria do futebol movimenta muito dinheiro. Talvez movimente mas em circuitos errados. Não existe indústria numa sociedade de senhores e de escravos. A não ser nos regimes totalitários.

Mas quais são afinal as reivindicações dos presidentes?! Reivindicações dirigidas à tutela e com ameaça de greve?!

Acabar com a violência no futebol, dinheiro das apostas desportivas, redução das taxas no seguro dos jogadores. Além duma critica directa à tutela que se tem revelado incapaz e ausente. De acordo e parecem-me justas. Mas convinha fazer primeiro o trabalho de casa. Em especial no caso da violência. Se ela tem a ver com a batota o melhor é acabar primeiro com a batota. E se a batota tem a ver com a enorme desigualdade e a inerente dependência (satelização) dos clubes, o melhor é combater aquela desigualdade e fiscalizar as dependências. Não é preciso inventar nada basta copiar o que fazem os campeonatos mais competitivos. E já estou careca de repetir: – centralização e distribuição equitativa das receitas televisivas e proibir empréstimos (ou falsos empréstimos) de jogadores entre clubes que participam no mesmo campeonato. Proibir e fiscalizar. O resto há-de vir por acréscimo.

Era isto que eu queria ver no caderno reivindicativo. Porque é disto que o futebol português precisa para sair do atoleiro onde está metido. Isto, sim, merece uma greve. O resto são palmadinhas nas costas.


Saudações azuis


Nota básica: Faltou falar das claques e suas variantes, aparentemente a face mais visível da violência no futebol. Repito, aparentemente. No entanto a estratégia tem que ser igual. Trabalho de casa por parte dos clubes e posterior intervenção do governo que se tem alheado das suas funções com medo de perder votos. E aqui não há claques boas e claques más. Há claques à rédea solta. Por isso as coisas chegaram ao ponto a que chegaram. Assim, se querem a minha opinião, o melhor é suspender temporariamente todas as claques e grupos organizados de adeptos devolvendo o futebol ao público que é afinal quem paga o espectáculo. E tem direito a ver o jogo sem ser incomodado. E sabendo que os clubes não conseguem assegurar a lei e a ordem dentro dos seus recintos também não é justo que sejam os contribuintes a pagar uma espécie de tributo de guerra... quando ainda não chegámos lá.

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