quarta-feira, junho 03, 2015

A geografia do campeonato

Quem olhar (com olhos mal vistos) para os resultados deste último campeonato pode chegar à conclusão que o norte do país está a perder gaz em relação ao sul, se considerarmos no sul a região de Lisboa. Com efeito quer o bicampeonato e a Taça da Liga, ganhos pelo Benfica, quer a Taça de Portugal conquistada pelo Sporting, além do encurtamento pontual para o Porto, são factores que vão nesse sentido. Como vai nesse sentido o sexto lugar alcançado pelo Belenenses, e a possibilidade (ao fim de muitos anos de jejum) de uma prova europeia! Sem esquecer naturalmente o Estoril que se manteve na primeira Liga.
Mas as coisas não são bem assim e explico:

Em primeiro lugar existe uma nova realidade geopolítica que são as autonomias regionais, sendo que a Madeira terá este ano três emblemas a disputar a primeira Liga: - Marítimo, Nacional e União.
Não é um fenómeno ocasional, é uma situação duradoura, pois já há alguns anos que pelo menos dois clubes da Madeira disputam a Liga principal, o que diz muito sobre o sucesso (a todos os níveis) de tal modelo de organização política! E que estranhamente ninguém quer adoptar no continente!

A outra questão prende-se com o enfraquecimento dos clubes da margem sul do Tejo! Em anterior postal já me referi à política de ocupação levada a efeito por Benfica e Sporting, com a conivência das próprias autarquias. Depois do socialismo, esta intrusão foi o golpe final nas aspirações de alguns emblemas que eram uma peça importante nas contas do campeonato. Barreirense, CUF, Montijo, Amora ou Seixal, dois deles alternavam quase sempre na primeira divisão garantindo assim um maior equilíbrio entre o norte e o sul. Equilíbrio que se rompeu a seguir ao 25 de Abril, aproveitando o Porto para copiar aquele modelo. E deu-se bem.
Quanto ao sul própriamente dito o melhor é esquecer. No actual ‘deserto’ só o Vitória de Setúbal resiste, e não sei por quanto tempo!

Analisando agora as outras mudanças em resultado das subidas provenientes da Liga de Honra, regista-se algum assomo de interioridade, com o Tondela a subir, enquanto Covilhã e Chaves ficaram perto. Mas a verdade é que fica tudo a norte de Coimbra! Por outro lado o Boavista veio para ficar, reforçando assim a região do Porto.

Do exposto podem tirar-se algumas ilacções:

A região de Lisboa só terá chances de competir com a região norte se os seus principais clubes (Benfica, Sporting e Belenenses) adoptarem uma estratégia de valorização da sua própria região. E ninguém fará esse trabalho por eles. Uma estratégia que respeite as diferenças, mas com espírito de região autónoma. Esse modelo acrescentaria rivalidade e atrairia mais público. Mais público porque em lugar de haver apenas dois jogos grandes em Lisboa, passava a haver seis! Era assim quando Lisboa tinha a hegemonia do futebol.
Não querem repetir?!


Saudações azuis

Nota básica:- Não se conclua que tudo depende do Belenenses e do seu regresso à antiga condição competitiva. Também é preciso que Benfica e Sporting não o estejam permanentemente a desvalorizar. Só há grandes jogos se os adversários forem competitivos.

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