O nosso futebol corre as mil maravilhas, há até quem diga que é um exemplo para o resto! Eu tenho outra opinião, a mim faz-me lembrar um filme soviético com actores sicilianos. Já agora aproveito para dar uma ideia de como a coisa funciona:
Primeira regra:
Os jogadores portugueses, aqueles
onde existe algum talento, pertencem basicamente a três clubes, a que resolvi
chamar - ‘clubes do estado’. A triagem dos jogadores é feita pelo mesmo estado,
através das selecções juvenis e logo aí se constituem direitos de propriedade
sobre os mais promissores. Como é muita gente e há que garantir que nenhum
escapa, muitos miúdos continuam a crescer nos clubes de origem mas já estão
comprometidos. Os melhores seguem depois para as respectivas equipas B e os que
sobram são emprestados a clubes ‘concorrentes’ na primeira Liga. Pus aspas na concorrência porque como se percebe neste ramo de actividade só há três
concorrentes.
Segunda regra:
Os jogadores assim formados (e
rodados) em outros clubes servem para ser vendidos ou trocados em negócio
vantajoso. Poucos ou nenhuns ascendem ao team principal dos três clubes
referidos. A razão é simples: uma vez que os três se propõem ombrear com os
melhores clubes da Europa, e nisso são vigorosamente apoiados por quem manda no futebol, não podem arriscar na formação de um craque caseiro e
assim vão ao mercado adquirir jogadores já feitos, de classe internacional, mantendo
plantéis para os quais não dispõem de receitas correspondentes. A venda de
jogadores ajuda, daí a necessidade de proteger o monopólio ou oligopólio
existente, mas a verdadeira solução tem sido o apoio incondicional do erário
público, seja das autarquias, seja dos bancos falidos ou intervencionados pelo
estado. A bem da nação, já se vê.
Terceira regra
Esta regra é uma consequência óbvia
da segunda: atendendo a que os direitos desportivos dos jogadores portugueses, aqueles
que têm mercado, estão nas mãos de Benfica, Sporting e Porto, os outros clubes,
salvo raríssimas excepções, pouco lucram com os negócios efectuados. Quando
muito umas migalhas pela formação. Ora este tratamento, tão desigual, só faz sentido
em se tratando de clubes do estado e à luz da constituição soviética que temos.
Tudo pela nação, nada contra a nação.
Quarta regra
Esta é a regra que coroa todo o
edifício do futebol, a regra que define a filosofia vigente: considerando que
temos três clubes que representam 99% do universo popular, associativo, etc., não
se justifica mantermos um estádio nacional, passaremos a ter três, em concessão.
A selecção fica assim melhor servida e ainda pagaremos o aluguer, pois
estaremos mais uma vez a dar dinheiro aos mesmos. De vez em quando, para
estágios, selecções jovens ou femininas alugaremos os outros estádios do Euro
que estão às moscas todo o ano.
Efeméride: Em setenta anos de
campeonato nacional só dois clubes conseguiram romper o bloqueio: - Belenenses
e Boavista!
Saudações azuis
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