Sou belenense, vou escrever um livro, talvez faça um filme. Nas primeiras imagens vê-se o Tejo, seguido de um grande plano das Salésias, estamos em meados do século passado, os protagonistas do lance capital já morreram, mas a câmara mostra o guarda-redes do Sporting a safar a bola de dentro da baliza, quase um metro, o árbitro não viu, os foguetes recolhem a penates, coração ao alto, havemos de ganhar para a próxima. A esperança prossegue no Restelo e na memória fica um lance que envolveu o próprio Cristo-Rei! Matateu marca um canto do lado poente, junto ao rio, a bola desafia as leis da física, abraça o Redentor e ainda assim vai anichar-se na baliza do Benfica. Costa Pereira, keeper encarnado, fica confuso, o árbitro resolve anular o golo!
O filme avança no tempo e chega ao intervalo com a mesma história – Benfica e Sporting dominam amplamente o futebol português, o Porto continua cercado, resignado a comer tripas, o regime delicia-se em Lisboa e explora em seu benefício a hegemonia do casalinho verde e encarnado. As anedotas do Calabote correm o país, era no tempo em que os jogos só acabavam quando Benfica e Sporting estavam a ganhar! Quando algum belenense protestava, era de imediato silenciado com a insinuação de que tinhamos um presidente da República que nos ajudava a não ganhar campeonatos! Tinha lógica.
Na segunda parte o filme muda completamente, começam por se ver muitas bandeiras encarnadas cheias de foices e martelos, o país aparece dividido pelo paralelo de Rio Maior, a algazarra leva os clubes do sul à falência ou atirados para divisões secundárias, enquanto o dinheiro foge para o norte. Nesta altura emerge um personagem que com determinação e astúcia reconstitui a partir do Porto um esquema idêntico ao que tinha assegurado a anterior hegemonia de Benfica e Sporting. E fá-lo com pleno êxito!
Mas as cenas repetem-se, os antigos patrões não se conformam e conspiram, os espoliados de sempre, gente miúda com tendência para migalhas, apoia, já tem saudades do casalinho, os jornais afectos não desarmam, Lisboa volta a ganhar importância política face ao país, prepara-se o golpe.
A oportunidade surge envolta num romance tórrido entre o homem do norte e uma jovem de alterne, cena fadista, de faca e alguidar, a rapariga que antes deitava fogo pelo dragão, transforma-se num ícone do terceiro anel, denuncia e entrega o amante desesperado! Nesta altura os espectadores do sul comovem-se até às lágrimas, e esperam pelo milagre. Ele acontece, a grande muralha da China abre-se para deixar passar a justiceira do povo!!!
Os próximos capítulos entram pelo nosso quotidiano, o homem do norte é ameaçado com o degredo, o casalinho rejubila e espreita a oportunidade para restaurar o seu domínio benfazejo. Lisboa precisa, o país merece, o mundo agradece.
O filme acaba na praia do Restelo com um velho belenense a vociferar que já viu este filme do vira o disco e toca o mesmo.
Mas ninguém quer acreditar.
The end.
O filme avança no tempo e chega ao intervalo com a mesma história – Benfica e Sporting dominam amplamente o futebol português, o Porto continua cercado, resignado a comer tripas, o regime delicia-se em Lisboa e explora em seu benefício a hegemonia do casalinho verde e encarnado. As anedotas do Calabote correm o país, era no tempo em que os jogos só acabavam quando Benfica e Sporting estavam a ganhar! Quando algum belenense protestava, era de imediato silenciado com a insinuação de que tinhamos um presidente da República que nos ajudava a não ganhar campeonatos! Tinha lógica.
Na segunda parte o filme muda completamente, começam por se ver muitas bandeiras encarnadas cheias de foices e martelos, o país aparece dividido pelo paralelo de Rio Maior, a algazarra leva os clubes do sul à falência ou atirados para divisões secundárias, enquanto o dinheiro foge para o norte. Nesta altura emerge um personagem que com determinação e astúcia reconstitui a partir do Porto um esquema idêntico ao que tinha assegurado a anterior hegemonia de Benfica e Sporting. E fá-lo com pleno êxito!
Mas as cenas repetem-se, os antigos patrões não se conformam e conspiram, os espoliados de sempre, gente miúda com tendência para migalhas, apoia, já tem saudades do casalinho, os jornais afectos não desarmam, Lisboa volta a ganhar importância política face ao país, prepara-se o golpe.
A oportunidade surge envolta num romance tórrido entre o homem do norte e uma jovem de alterne, cena fadista, de faca e alguidar, a rapariga que antes deitava fogo pelo dragão, transforma-se num ícone do terceiro anel, denuncia e entrega o amante desesperado! Nesta altura os espectadores do sul comovem-se até às lágrimas, e esperam pelo milagre. Ele acontece, a grande muralha da China abre-se para deixar passar a justiceira do povo!!!
Os próximos capítulos entram pelo nosso quotidiano, o homem do norte é ameaçado com o degredo, o casalinho rejubila e espreita a oportunidade para restaurar o seu domínio benfazejo. Lisboa precisa, o país merece, o mundo agradece.
O filme acaba na praia do Restelo com um velho belenense a vociferar que já viu este filme do vira o disco e toca o mesmo.
Mas ninguém quer acreditar.
The end.
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