"Embora
queira acreditar no sistema judicial português, tenho sérias
dúvidas. No meu caso, observei sintomas claros de parcialidade e
práticas antidemocráticas. Por exemplo, o procurador responsável
pelo meu caso disse, durante um interrogatório, que os tribunais não
queriam investigar casos de corrupção e evasão fiscal. Ela só
quer que a minha cooperação seja auto-incriminatória",
afirmou Rui Pinto no decorrer da entrevista ao jornal francês
Liberátion.
"Ela
quereria que eu abrisse os discos rígidos e me acusasse de novos
crimes. Ironicamente, ela dirige a unidade criada no ano passado para
investigar crimes de futebol. Mas, como todos podem ver, esta unidade
dedica-se exclusivamente à perseguição de denunciantes. Não foram
abertos processos criminais depois das revelações do Football
Leaks. E as investigações sobre os alegados esquemas de corrupção
do Benfica estão congeladas. Exorto as instituições europeias a
fazerem alguma coisa. Portugal não está envolvido na luta contra a
corrupção e não tem intenção de alterar as suas leis", pode
ler-se.
Rui Pinto volta a insistir na tecla da colaboração com as autoridades: "Sempre manifestei a minha intenção de cooperar com todas as autoridades. Infelizmente, Portugal acaba por estar do lado errado da guerra. Esperava que outros países, como a França ou a Bélgica, me salvassem deste país e aproveitassem esta oportunidade para investigar e processar os criminosos do futebol, que existem a uma escala inimaginável! Está nas mãos deles".
"Portugal
é o centro das práticas fraudulentas, mesmo para além do futebol.
Toda a corrupção e evasão fiscal enfraquecem as nossas
democracias, e a impunidade concedida pelas leis retrógradas mostra
que isso não vai mudar no futuro próximo", refere ainda o
denunciante, que volta a mostrar-se arrependido no caso da Doyen. "O
meu primeiro contacto com a Doyen Sports foi um erro. Fui ingénuo,
não devia tê-lo feito, mas não cometi nenhuma extorsão. Suspeito
que o Ministério Público português está a ocultar elementos muito
importantes da acusação, o que seria inaceitável".
(Com a devida vénia, 'O Jogo' em 17/01/2020)
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