Contas feitas, no futebol, como no resto, pouco ou nada mudou com o 25 de Abril. E hoje passados mais de quarenta anos sobre a celebrada data, podemos concluir que até piorou! Nos primórdios do estado novo, quando o poder político ainda não tinha capturado o futebol para a sua propaganda, o jogo desenvolvia-se dentro das quatro linhas e os mais fortes ganhavam mais vezes que os mais fracos. A competição é assim. Porém a partir do momento em que perder passou a ser uma vergonha, e eu não consigo precisar esse momento, a partir daí tudo se alterou. Digo isto em contraste com a Inglaterra (país que inventou o futebol) onde perder continua a ser apenas e só um dos três resultados possíveis.
Mas regressemos então à república de Abril e ao seu futebolzinho
corrupto e batoteiro. Um futebol com cartas marcadas envolvido em escândalos
permanentes. E porque é corrupto e batoteiro, tornou-se profundamente desigual fazendo
lembrar aquela imagem em que uns jogam de botas cardadas e os outros jogam
descalços. E se na república anterior já se começava a sentir algum condicionamento político sobre o futebol, nesta república de Abril a promiscuidade é total. Recordemos como se chegou até aqui.
A seguir ao golpe militar e face à inevitável desordem, o futebol,
assustado, fugiu para o norte para onde fugiram também a produção e o emprego. O
Porto e o Boavista aproveitaram para ganhar terreno à concorrência lisboeta. Abaixo
do paralelo de Rio Maior reinava o ‘povo unido’ e os clubes do sul foram naturalmente
varridos do mapa. Barreirense, Seixal, CUF, Amora, Lusitano de Évora, etc.,
quem se lembra deles na primeira divisão?!
O próprio Belenenses, que nunca foi o clube do regime, essa benesse
cabia ao casalinho verde rubro, também não escapou à febre revolucionária. Mudou
o nome ao estádio encheu-se de esquerdistas e maçons, e apesar de ter beneficiado
de rios de dinheiro provenientes do Bingo, ganhou apenas uma Taça de Portugal e,
verdadeiramente, nunca mais foi o mesmo.
Entretanto, lá fora, na república laica e socialista as
coisas pioravam. As empresas do norte faliram, más notícias para o Porto, o
país passou a viver dos subsídios de Bruxelas, boas notícias para os burocratas
de Lisboa, pois era o governo central quem iria distribuir aquelas verbas. Altura
ideal para voltarmos ao antigamente. Momento oportuno para um apito dourado com
alvos definidos – Porto e Boavista. E de facto foi no consulado de Sócrates que
se deu a reviravolta. O antigo primeiro-ministro, quando ainda era comentador,
sempre disse na televisão que ‘Lisboa já merecia ter novamente um clube campeão
europeu de futebol’.
A partir daqui tudo se torna compreensível desde o controle
da comunicação social à falência dos bancos, desde os campeonatos da treta ao almejado
penta. É uma democracia totalitária a funcionar - um regime, um partido, um clube! Como também é compreensível que Sócrates tenha sido constituído arguido por
corrupção, tráfico de influências e branqueamento de capitais. O 25 de Abril deu
nisto. E a pergunta que se coloca é esta: - terá este regime capacidade para se regenerar por si próprio?! Duvido. No entanto o desafio é esse e os dados estão lançados. Veremos se a justiça tem resposta ou se já está, por sua vez, também ela contaminada?!
Pelo que sabemos já há suspeitos identificados. Quanto ao resto da camarilha, posso dar uma pista: - comecem pelos ‘peregrinos de Évora’! E
depois puxem o novelo.
Saudações desportivas
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