As sociedades desportivas (eram 18) reuniram-se na Mealhada e o comunicado final é bastante vago e evasivo. Omite o leitão, não fala no espumante, e quando se lê nas entrelinhas, Deus me perdoe a descrença, aquilo lembra-me outra vez um rebanho conduzido pelos habituais pastorinhos. O preâmbulo reza assim:
'É chegado o momento das sociedades desportivas se entenderem em matérias estruturantes e que afectam todo o sector, sem intermediários e sem a intervenção de entidades que ultrapassam os seus desígnios e que, por vezes, contra elas concorrem'.
O comunicado detalha em seguida as prioridades que são básicamente as seguintes:
Acesso de público aos recintos desportivos;
Quadros competitivos;
Centralização da comercialização dos direitos televisivos;
Então o que é que me leva a desconfiar?!
Comecemos pelo acesso do público ao futebol, que não é matéria estruturante na medida em que é uma situação excepcional provocada por uma pandemia. É verdade que tem causado prejuízos de bilheteira a todos, em especial a Benfica, Sporting e Porto e também é verdade que o futebol tem sido discriminado negativamente se o compararmos a outros espectáculos. Aqui percebem-se as dificuldades financeiras e algum pedido de ajuda ao governo.
O segundo ponto refere-se aos 'quadros competitivos' e tenho naturalmente que me lembrar da proposta de redução para dezasseis clubes que está em cima da mesa. Ora bem, já o escrevi, esta proposta destina-se a favorecer uma pequena elite de clubes, quase sempre os mesmos, e assenta numa filosofia errada. Uma filosofia que não valoriza o campeonato nacional e o transforma em mero trampolim para as provas europeias. Não sei o que pensa a maioria das sociedades representadas na Mealhada, mas eu sei que quanto menos jogos fizerem menos receitas televisivas vão ter. E como as despesas são as mesmas e as receitas televisivas são o essencial das receitas da maioria das sociedades ali presentes...
E entramos no último ponto recordando que a centralização dos direitos televisivos já tem data marcada.
O Conselho de Ministros aprovou o decreto-lei que visa impedir que os clubes das competições profissionais de futebol comercializem individualmente os direitos dos seus jogos relativos às épocas 2028/29 e seguintes, cabendo à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e à Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) a apresentação do modelo do negócio até ao final da época desportiva de 2025/26.
Face a esta realidade e a esta:
Em comunicado, a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto assinalou que, atualmente, com a comercialização individual, “a diferença entre a sociedade desportiva que mais recebe e a que menos recebe é de aproximadamente 15 vezes”, contrastando com outros países com os direitos centralizados, como Espanha e Itália, três vezes mais, Alemanha, 2,5 vezes mais, e Inglaterra, 1,3 vezes mais.
O que é que as sociedades presentes na Mealhada querem dizer com: - 'sem intermediação e sem a intervenção de entidades que ultrapassam os seus desígnios'!
Pois é, sou um descrente.
Saudações azuis
Post scriptum: A alimentar a minha descrença li hoje um curioso depoimento de Rui Gomes da Silva, opositor de Vieira nas últimas eleições do Benfica, e que sustenta a tese que na hora de distribuir as receitas televisivas elas devem ser feitas de acordo com a grandeza do Benfica e não com a sua classificação! Depoimento ridículo mas que se enquadra no espírito anti competitivo de muitos dos nossos dirigentes.
Outra declaração ridícula de Gomes da Silva e que seria melhor não a ter feito, tem a ver com a importância do clube ainda deter a maioria das acções na SAD! Até podia ter todas que não alterava o que ouvimos na comissão de inquérito ao Novo Banco: - quem escolheu o presidente do Benfica não foram os sócios, foi o banco.
Sem comentários:
Enviar um comentário