domingo, outubro 05, 2008

Crónica de um milagre

Quem nunca tivesse visto actuar o Belenenses esta época e desconhecesse em absoluto o que se passa no Clube, desde as últimas eleições, diria com toda a objectividade o seguinte:

Uma primeira parte equilibrada em que o Belenenses obrigou a Naval a jogar em contra ataque, com os figueirenses a disporem apenas de uma verdadeira oportunidade de golo na sequência de um clamoroso erro posicional do central Alex. Também é verdade que para além do maior número de cantos conquistados o ataque azul não mostrou, durante esse período, capacidade para marcar golos. E sem golos…

Na segunda parte as coisas modificaram-se para pior – desde logo na atitude que passou a ser de expectativa em lugar de continuarmos a pressionar lá na frente como sucedeu durante o primeiro tempo. A opção pelos lançamentos compridos foi outra das pechas, reduzindo drásticamente a nossa posse de bola e obrigando a equipa a correr atrás dos jogadores da Naval.

Naval que tinha feito uma primeira alteração logo ao intervalo o que terá contribuído para o crescendo da equipa que passou a controlar o jogo ameaçando então o nosso último reduto especialmente através das investidas de Marinho que explorava as facilidades concedidas por Cândido Costa. Ainda houve uma pequena reacção azul, ganharam-se novamente alguns cantos em virtude das insistências de Wender, mas a partir de nova mexida de Ulisses Morais, o Belenenses escancarou todas as suas deficiências, onde o meio campo não consegue reter a bola quando é preciso nem a sabe soltar quando também é preciso. Quanto ao ataque, continuou inofensivo.

Entrávamos assim nos últimos vinte minutos que têm sido fatais esta época. E o anunciado golo da Naval surgiu, digamos, naturalmente. Defesa incompleta de Júlio César que sacudiu a bola para perto limitando-se o jogador da Naval a centrar atrasado para um seu colega fazer o golo de abertura.

E como tem sido hábito fazem-se a seguir as substituições de sufoco na busca do empate! E ele surgiu, tal como contra o Paços de Ferreira, nos descontos. Um milagre com o nome de Porta.

Apreciações individuais:

Júlio César – boa actuação, salvou o erro de Alex com uma grande defesa e no golo terá sido surpreendido pela violência do primeiro remate. Tem no entanto que corrigir alguns aspectos: desde logo, e porque utiliza muito os punhos, não pode sacudir bolas para as imediações da baliza, é perigoso; e também precisa de ser mais rápido nas reposições de bola, porque as demoras moralizam sempre o adversário.

Cândido Costa – exibição para esquecer. Não tem velocidade para ser lateral e pelos vistos também não tem sentido posicional do lugar. Um passe desastroso para zona proibida poderia ter redundado em golo da Naval. Subiu muito pouco no seu corredor e quando assim é já se sabe que não criamos rupturas na frente de ataque.

Alex – não gostei da exibição de Alex. Perdeu algumas bolas no jogo aéreo, mesmo concedendo que Marcelinho é muito alto. E cometeu um erro posicional que um central não pode cometer, e que nos ía custando um golo na primeira parte.
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Matheus – o melhor jogador do Belenenses neste jogo, sem erros, saíu sempre a jogar, não falhou um passe. E fartou-se de entregar bolas ao meio campo azul.

China – uma exibição razoável, conhecedor dos terrenos que ocupa, subiu com a propósito várias vezes e centrou algumas bolas. Pena que os seus centros não sejam mais venenosos.

Gabriel Gomez – razoável no primeiro tempo, conseguiu desfazer-se da bola com mais ligeireza. Piorou na segunda parte e foi um dos que foi incapaz de suster a supremacia da Naval. Continua lento e parece ter só uma velocidade. Acabou substituído para dar entrada a Porta.

Mano – nesta apreciação serei naturalmente menos rigoroso porque se trata de um jovem, ainda por cima está a jogar numa posição um tanto indefinida. Uma actuação intermitente, alguns rasgos, alguns erros por afunilamento, mas Mano tem que jogar. Ou ir jogando.

Silas /Zé Pedro – ou um ou outro, não me parece que possam jogar os dois, para além de que, e vou dizer uma heresia – Zé Pedro não é jogador para agarrar jogo, para reter a bola, para a manter na sua posse. Não tem características para isso, a bola está sempre muito solta á sua frente, é fácilmente desarmado. E depois faz faltas perigosas. Ontem safou-se de ver o cartão encarnado porque o árbitro foi amigo e a bola continuou na posse da Naval. Toda a gente percebeu isso.
Em contrapartida é o nosso jogador mais perigoso no último terço do campo. É aí que tem que jogar. Os bons jogadores como Zé Pedro, acabam as carreiras ou a jogar mais à frente ou a jogar mais atrás. No meio é que não.

E agora Silas – trata-se de um jogador de classe, este sim, com grande capacidade de retenção de bola, mas não é um centro campista. Não tem essa valência. Ontem jogou bem a reter a bola e jogou mal a entregá-la. E como já alguém disse, espera-se de Silas mais do que ele tem dado. Estes jogadores têm que decidir os jogos e Silas decide pouco.

Wender – esforçado, mas estão a dar-lhe tarefas de grande exigência física. Já não tem idade para isso. Uma coisa é ser avançado centro outra bem diferente é ser extremo ou mesmo ponta de lança. Aproveitemos de Wender a sua técnica especial, o seu oportunismo e ratice. Ontem ganhou muitos cantos… mas estes cruzamentos que não chegaram ao destino eram para quem?! Para o Roncatto?! Para alguém que não aparecia no lado direito do nosso ataque?!

Roncatto – inofensivo é o termo. Sabe cobrir a bola, sabe arrancar faltas em virtude disso, mas não é o goleador que precisamos. Agarra-se muito à bola e afunila o jogo. Mas esteve bem no pressing da primeira parte porque sabe posicionar-se tacticamente.

Porta – entrou tarde na partida, marcou o golo e revelou com esse pequeno grande pormenor que tem instinto de goleador. Saíu comovido do campo e só por isso mereceria uma menção honrosa!

Vinicius e João Paulo Oliveira entraram no último fôlego e lutaram pelo resultado.

Notas finais:

Como devem ter reparado fui hoje mais pormenorizado (e mais cáustico) do que o habitual na apreciação individual dos jogadores. E fui por três ordens de razões, a saber: em primeiro lugar porque o tempo escoa-se… Em segundo lugar para contrabalançar muita opinião em sentido contrário sobre falsos heróis e falsos vilões; finalmente, e em terceiro lugar, porque a crítica contundente não invalida o respeito que me merecem todos os jogadores que suam a camisola do Belenenses.

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