terça-feira, agosto 26, 2008

Meninos de Coro

Férias, nada que fazer, fui dar à ‘SIC-Notícias’, canal que em matéria de informação usa o tradicional funil, ou seja, tratando-se de futebol reduz o assunto aos clubes do estado.
E lá estavam os três meninos de coro, o cantochão do costume, moderado como de costume. O alinhamento do programa é relativamente simples: - cada um dos meninos tem a sua rábula cabendo aos telespectadores a tarefa de descodificarem as bocas, as caretas e demais reticências que se vão produzindo ao ritmo de um jardim de infância:


Ontem o menino de alvalade estava de birra porque lhe tinham assinalado um penalty em casa! Coisa rara e pouco vista! Mas a grande penalidade foi bem assinalada porque se tratou de uma falta continuada – um carrinho por trás (guiado por Polga) que levou o jogador do Trofense desde a entrada da área do Sporting (quase) até à Trofa! E o choro tornou-se convulsivo, pedia-se a cabeça do fiscal de linha, um exagero que tinha outros objectivos: na mente estava já o Bom Jesus de Braga.

O menino das Antas, sarrafeiro de longo curso (já vem do tempo da Constituição!) queixava-se ontem de uma sarrafada! Uma entrada rija mas não violenta sobre o luxo do Dragão! Repetiram o lance cem vezes ao retardador, crucificaram o pobre defesa do Belenenses que cortou a bola na perpendicular do jogador do Porto, e no choque inevitável atingiu a bota do argentino de raspão. Crucificaram também o árbitro, que estava bem colocado (de frente para a jogada) e ajuizou o lance em tempo real e, tal como eu, não vislumbrou nenhum massacre.
A estratégia deste ex-Aguiar da Liga também parece clara: - enquanto falamos nas sarrafadas dos outros não reparam nas nossas. E nós que temos lá dois centrais que só jogam de pantufas!

Quanto ao menino da Luz a noite era para desconversar. Perguntava pelo Quaresma, atirava lenha para a fogueira a ver se os outros dois se pegavam, tudo menos falar sobre o dream-team habitual… que empatou com o Rio Ave! E com um golito do Nuno Gomes!

O programa é básicamente isto, e se for levado a brincar ‘no pasa nada’ como dizem nuestros hermanos. Só que aquilo não é a brincar, é visto por muita gente, mexe com muito dinheiro e mexe sobretudo com valores que merecem algum respeito. Desde logo o princípio do contraditório - no caso do auxiliar que assinalou uma grande penalidade em Alvalade, o direito à defesa da honra já que foi ali acusado de tudo e mais alguma coisa. E também deveria haver lugar para a defesa da verdade no que toca à acusação de jogo violento sobre Lucho Gonzalez, quer através do árbitro do encontro quer da parte do Belenenses. E talvez fosse de aproveitar a oportunidade para desmistificar de vez a mentira de alguns lances visionados em câmara lenta que distorcem a factualidade do contacto entre os jogadores. Nestes casos só a velocidade real permite ter a noção e a dimensão da ocorrência.
Para além disto, que não é pouco, ainda ficam as descaradas pressões sobre os árbitros e a concorrência desleal, matérias onde a Liga , a Federação e o Governo têm muito por onde pegar.

Saudações azuis.

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