O vocábulo está na moda e é
normalmente utilizado para justificar as obras num país em obras. A base da
requalificação é o cimento armado, raramente é o verde! Dito isto, qualquer
empreiteiro do mundo dirá que o mundo precisa de obras, precisa de ser requalificado.
E o Restelo faz parte do mundo.
Justificada a obra na perspectiva
do empreiteiro vamos analisá-la na perspectiva das outras partes interessadas –
o Clube de Futebol ’Os Belenenses’ e a Câmara Municipal de Lisboa, que autoriza
o projecto. Os interesses deveriam ser coincidentes mas não têm sido. Em
relação a Sporting e Benfica a música é outra.
Começamos pela Câmara. Esta
vereação socialista onde emerge o não eleito Medina, nome que me faz lembrar,
sem querer, mesquitas pela cidade, esta vereação, dizia, só pode ficar contente
quando lhe falam em escolas, polos universitários, piscinas, espaços comerciais
e outros equipamentos de lazer que só pelo facto de não serem geridos pelo Belenenses
lhe dão a garantia de alguma continuidade. Não tem nada a ver com o Belenenses,
tem a ver com o histórico dos clubes de futebol a gerirem actividades para as
quais não têm a mínima vocação. Bingos, piscinas, etc…. O resultado final é normalmente
a falência da iniciativa. A alternativa costuma ser uma concessão e uma renda,
alienando o clube mais uma parcela do seu território. Aliás isso parece visível
no que toca ao futuro ‘pavilhão poli-desportivo’, e vou citar o que li: - ‘o
pavilhão será gerido e utilizado pelo clube mas financiado pelo privado, ao
qual forem atribuídos, por 50 anos, os direitos de superfície daquela parcela’!
O que é que isto quer dizer?! O privado é um benemérito do Belenenses?!
Pergunta que deixo no ar e para a qual não consigo encontrar resposta plausível.
Portanto, em relação aos
interesses da Câmara estamos conversados.
Para aferir sobre os interesses
do C.F. ‘Os Belenenses’ neste projecto, nada melhor que seguir os objectivos enunciados
pela Direcção do Clube*: - esqueço o natural exagero do momento (‘o maior e o
mais moderno complexo desportivo da cidade de Lisboa’), esqueço a frase batida
do Sérgio Godinho (‘o primeiro dia do resto da vida do Belenenses’), esqueço
também a crónica dos séculos (‘antes de 1 de Julho 2016 e depois de 1 de Julho
2016’), esqueço tudo isso, que pode ser lido ao contrário, e fixo-me apenas em
três alvos muito concretos:
1. Modernizar
as instalações desportivas;
2. Capacidade
para o Belenenses se abrir ao exterior e à cidade e assim captar mais adeptos;
3. Garantir
a sustentabilidade financeira para as próximas décadas;
Não vou perder muito tempo com a
segunda alínea – ‘capacidade para se abrir ao exterior e captar mais adeptos’ –
um disparate semelhante àquele que fez escola na altura da construção das
piscinas! Dizia-se então que as piscinas multiplicariam o número de sócios e
adeptos. Os sócios multiplicaram-se, os adeptos não. Para o fim, quando as
piscinas se degradaram, nem os sócios. O número de adeptos só aumenta quando
tivermos uma equipa de futebol que faça frente a Benfica e Sporting. Não tem
nada que enganar.
A terceira alínea – garantir a
sustentabilidade financeira para as próximas décadas – é outra falácia. As
rendas degradam-se com o tempo. Em Portugal quem vive de rendas vive cada vez
pior. As leis favorecem sempre o inquilino, nunca o senhorio. Além de que as
rendas nos afastam viciosamente do negócio do futebol. Talvez seja bom para esta e para as
próximas Direcções, será péssimo e fatal para o futuro do Belenenses. Basta
lembrar os anos de oiro do Bingo! O que lucrámos com isso?! Uma taça de
Portugal?! E hoje, onde estamos?!
Quanto à primeira alínea – modernizar
as instalações desportivas - todos estamos de acordo com a Direcção. É verdade
que perdemos ‘o comboio da modernidade’ quando não soubemos aproveitar
devidamente o Euro realizado no nosso país. Deveríamos ter exigido o mesmo que
os outros. Não seria um estádio novo, mas fazia todo o sentido falar nessa
altura em requalificação! Não fomos capazes, não tivemos força, já não
interessa, acabámos por receber umas migalhas a título de compensação.
Entretanto não vi noticiada
qualquer melhoria em termos de acessibilidades e estacionamento para quem se
desloca ao estádio em dias de jogo. Deverá existir, eu é que não vi.
Finalmente e concluindo: - seja
novo, seja velho do Restelo, todos reconhecem que estas obras se vão realizar
em contra ciclo, numa conjuntura (nacional e europeia) em que poucos se atrevem
a prognosticar o dia de amanhã! Não serão tempos de abundância, esses já foram,
portanto há que assentar bem os pés na terra. O Belenenses é um clube de
futebol e é no futebol que terá de garantir a sua continuidade como grande
clube.
Saudações azuis
*Lido nos órgãos de comunicação
social.
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