quarta-feira, abril 29, 2020

O jogo do empurra!


O governo reuniu-se com a FPF, com a Liga de Clubes, tendo sido convidados também os presidentes do Benfica, do Sporting e do Porto. Para discutir o quê?! O regresso das competições nestes tempos de pandemia. E do rescaldo da reunião saiu o esperado fumo cinzento: - o regresso do futebol fica condicionado à permissão das autoridades sanitárias. Se era para isto bem podiam ter reunido com aquela senhora da direcção geral de saúde. Que por certo não iria colocar grandes obstáculos uma vez que qualquer estádio é bastante maior que a assembleia da república. Há apenas que resolver o problema das distâncias entre os jogadores e as máscaras.
De qualquer modo gostaria de tecer alguns comentários sobre a ideia e a estrutura desta reunião:

Em primeiro lugar ficámos a saber aquilo que já sabíamos há muito tempo, ou seja, que neste país o que conta são os chamados 'grandes', ou como eu lhes chamo – os clubes do estado - dentro da velha tradição soviética, onde uns eram mais iguais do que os outros.
Em segundo lugar e como consequência do primeiro, a Liga, ao contrário do que o nome indica, não representa os tais 'grandes' e por isso devia chamar-se apenas 'Liga dos pequenos'. Um papel que o sr. Proença deve levar em consideração daqui para a frente.
Em terceiro lugar e porque a sugestão elitista terá partido do sr. Gomes da federação, ficamos a aguardar um próximo campeonato, organizado por ele, e só com os três clubes eleitos. Para perfazer o calendário devem chegar vinte voltas.
Em quarto lugar podemos concluir que o verdadeiro problema do nosso futebol são precisamente aqueles três clubes, completamente falidos, completamente dependentes das receitas televisivas, receitas vergonhosamente 'leoninas' e que já levam anos de avanço através do vergonhoso 'factoring' que aqui tantas vezes denunciei. São esses mesmos clubes que, em desespero financeiro, estão a forçar o recomeço mesmo que isso possa colocar em risco a saúde de algumas pessoas.
Em quinto e último lugar e sabendo que os restantes clubes também dependem das receitas televisivas para sobreviver, vamos a ver se nos jogos que faltam (á porta fechada e em campo neutro) a escandalosa disparidade se mantém!

Saudações azuis

segunda-feira, abril 13, 2020

Reflexões – (Belenenses, Lay off e outras incertezas)


No meu postal 'Horizontes', ainda que superficialmente, dei umas pinceladas naquele que, imagino, seja o futuro quadro competitivo. Hoje vou comentar algumas ideias que têm vindo a público sobre o tema.

Comecemos pelo Belenenses onde Rui Pedro Soares se antecipou à concorrência, uma qualidade que efectivamente possui, avançando com a ideia do Lay Off! Sofreu logo uma chuva de críticas, umas imbecis, outras mais, mas eu acho que pode ser um dos caminhos para resolver o problema dos salários no futebol profissional. Neste caso de prolongada (e indefinida) ausência de competições.

E não percebo as dúvidas! Se há uma indústria paralisada por causas que estão a merecer apoio especial e extraordinário, se as entidades patronais pagam contribuições e impostos, pretendem manter a actividade, manter os seus trabalhadores, mas sem as receitas ordinárias e previstas, não conseguem pagar-lhes o vencimento, se tudo isto se enquadra na lei, porque não hão-de aceder a este mecanismo de comparticipação?!

A estas perguntas tudo se calou. Perceberam que não podem realizar-se campeonatos nacionais só com Benfica, Sporting e Porto, e também perceberam que seria absurdo usar o lay off para compensar salários de luxo! Alguns dos quais envolvidos em suspeitas de evasão fiscal!
Só que os restantes clubes/SAD, que são a esmagadora maioria, pagam salários, relativamente modestos, a jogadores que sustentam famílias, e que sem esses salários e sem esses jogadores não haverá campeonato nem indústria do futebol. Para não falar em muitos outros profissionais que trabalham a montante e a juzante desta actividade.

Ainda assim compreendo que terá que haver adaptações para o futebol. Uma delas prende-se com a ponderação dos tectos salariais comparticipados, e a outra, com o universo a quem se aplica. Que só poderá abranger um número limitado de jogadores por cada clube/SAD. Critério extensível ao restante staff. Estamos a falar de números que sejam os indispensáveis para manter de pé um campeonato nacional. Mais realista e mais viável. Quanto ao resto terá de ser o futebol a encontrar as respostas. Reformando-se e adaptando-se aos novos tempos.

Essas respostas devem vir prioritáriamente da Federação (e da Liga!) quer com soluções de curto prazo, quer preparando já cenários futuros. E têm meios para isso. Para além das receitas televisivas, que terão de ser centralizadas e geridas pela própria Federação, pode ainda cativar receitas da UEFA. O princípio é simples – só vai à UEFA quem ganha mas os que perdem também têm que ganhar alguma coisa com isso. Este princípio distributivo já é seguido nalguns países europeus e muito antes do corona vírus aparecer. Em Portugal, porém, esse princípio ainda não foi interiorizado. É mais fácil queixarmo-nos do egoísmo dos outros.

sábado, abril 04, 2020

O campeonato está feito


De vez em quando passo pelos canais desportivos e verifico que há ainda uns maduros que acreditam na possibilidade de jogar as dez jornadas que faltam em tempo útil e assim coroar o novo campeão! Sim porque a única preocupação é essa, sendo que logo a seguir deve ser quem vai receber os milhões da Champions! Pelo meio e para despistar falam nas descidas e subidas. Por fim ficaram muito aborrecidos porque a UEFA descartou para cada país a resolução do problema. Uma espiga para o Proença e outra para o Gomes que em matéria de decisões difíceis já sabemos como é.
Pois bem, vou dar-lhes uma ajuda.

E a primeira ajuda é dizer-lhes que esta pandemia é um facto real e mesmo que abrande e estabilize só poderão realizar-se eventos que envolvam contactos de grupos de pessoas daqui por ano e meio, prazo estimado para haver uma vacina. E estou a ser optimista. Portanto o próximo campeonato só começará em 2021. Campeonato esse que terá de ser equacionado em moldes muito diferentes daqueles a que estamos habituados. Idem para as provas da UEFA. Até lá cabe a cada país definir as classificações, e por consequência os apurados para aquelas provas.

Segunda ajuda: - Sendo o campeonato uma prova de regularidade, cumpridos mais de dois terços do mesmo, pode dizer-se que a dez jornadas do fim a classificação acaba por reflectir alguma justiça competitiva. Quem vai em primeiro, vai em primeiro, quem vai em último, vai em último, e quem vai à Europa também já ocupa aquelas posições. É verdade que realizando-se aquelas jornadas em condições normais, e repito, em condições normais, era possível que alguma mudança pudesse ocorrer. Mas seriam muito poucas ou nenhumas. E podemos retirar já uma conclusão importante: - imaginando que se conseguiam realizar as dez jornadas que faltam elas nunca iriam ocorrer em 'condições normais' e isso sim afectaria a verdade desportiva.

Terceira e última ajuda: - numa análise mais fina à actual classificação e apontando para os casos mais sensíveis (os primeiros e os últimos) não ignorando que se trata de uma prova a duas voltas, poderia permanecer alguma dúvida entre as equipas que ainda não se tivessem defrontado na segunda volta. Mas nem por aqui há motivos para pôr em causa a justiça desportiva. O FC Porto que vai à frente ganhou os dois jogos ao Benfica, seu competidor directo. Quanto ao Portimonense (penúltimo/16 pontos) e ao Paços de Ferreira (antepenúltimo/22 pontos) que ainda não se defrontaram nesta segunda volta a situação é a seguinte: - em Portimão houve um empate e o resultado em Paços de Ferreira, só por si, e dada a diferença pontual nada viria mudar.

Este é o meu critério e são estas as minhas ajudas. Para além disto a Federação e a Liga podem e devem compensar algum prejuízo que possa haver nas descidas de divisão nestas condições. Embora como disse, os 'condenados' (Aves e Portimonense) já estivessem praticamente condenados.

quinta-feira, abril 02, 2020

A importância das coisas


Se algo de positivo podemos extrair destes tempos difíceis é o facto de ter colocado as coisas no seu devido lugar. E o futebol, como bem dizia alguém, é a coisa mais importante das coisas menos importantes. Como mesmo assim conseguiu atingir tal patamar é assunto que pertence a outras 'pandemias' que sofremos sem disso dar conta. Adiante. O que é certo é que aquelas intermináveis mesas redondas, com indivíduos quadrados, a falar do Benfica, ou em contraponto, do Sporting de Bruno de Carvalho, isso acabou definitivamente. Ou pelo menos estão de quarentena. E hoje, cavada já alguma distância, podemos aferir quão infantis e ridículas eram as discussões, e os programas, onde se debatia facciosamente a mão na bola ou a bola na mão! Mas não nos iludamos os responsáveis por tais programas continuam lá, e infelizmente com o mesmo espírito. Só substituíram a palavra Benfica por Covid. E especializaram-se em epidemias, equipamentos sanitários e curvas portuguesas.


Nota básica: O autor também terá sofrido, nalguns momentos, dos mesmos males. Mas é como tudo. É difícil escapar à doença e acabamos por produzir anti corpos em exagero.